Com o intuito de promover a igualdade de gênero e incentivar a participação feminina na ciência, em 2006 o Grupo L’Oréal lançou – em parceria com a UNESCO e a Academia Brasileira de Ciência (ABC) – o prêmio Para Mulheres na Ciência que, anualmente, contempla sete brasileiras autoras de projetos científicos em quatro áreas distintas – Ciências da Vida, Ciência Física, Ciência Química e Ciência Matemática – com bolsas no valor de R$ 50 mil.
Até novembro, a lista reunia 120 pesquisadoras. No final desse mês, mais sete brasileiras entraram para o grupo, que integra programa global que contempla mais de 350 jovens cientistas em 110 países.
“Há 19 edições no Brasil, nos dedicamos a apoiar mulheres na ciência. Acreditamos que a ciência é a chave para solucionarmos os desafios sociais, e os projetos das nossas laureadas são a prova de que a inclusão no ambiente científico é fundamental para maior inovação e contribuição. Queremos ver mulheres cientistas liderando e sendo protagonistas da própria história”, comenta Cristina Garcia, Diretora de Pesquisa Avançada e Comunicação Científica do Grupo L’Oréal para a América Latina.
Este ano, as homenageadas da 19ª edição do prêmio são Carolina Loureiro Benone (Universidade Federal do Pará), Fernanda Rodrigues Soares (UF do Triângulo Mineiro), Larissa Ávila Matos (Universidade Estadual de Campinas/SP), Luísa Campos Caldeira Brant (UF de Minas Gerais), Manuela Sales Lima Nascimento (UF Rio Grande do Norte), Marcela Fonseca (UF Pará) e Raquel Aparecida Moreira (UF Ouro Preto/MG). A seguir, conheça os projetos das vencedoras.
Ciências da Vida (4 contempladas)
RAQUEL APARECIDA MOREIRA
A bióloga é professora na Universidade de São Paulo (USP) e investiga como a presença de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos impactam organismos dos ecossistemas aquáticos.
Ela acredita que, assim como esses medicamentos alteram o comportamento humano, podem também alterar o comportamento de animais aquáticos.
Para provar sua hipótese, a pesquisadora vai avaliar se, na presença de tais medicamentos, peixes e crustáceos mudam a forma como reagem a ameaças e investigar se, após exposição prolongada, desenvolvem dependência química aos compostos estudados.
Para Raquel, é fundamental reconhecer as interconexões entre saúde humana, saúde animal e saúde ambiental, uma perspectiva, conhecida como saúde única.
O estudo da ecotoxicologia – diferentes efeitos da contaminação ambiental sobre a saúde dos ecossistemas e da biodiversidade – é essencial para a gestão da qualidade da água, do solo e da saúde pública.
MANUELA LIMA NASCIMENTO
Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a cientista vai investigar a infecção congênita causada por agentes da sífilis e da toxoplasmose.
Sua pesquisa pioneira tem como objetivo avaliar se essas infecções causam alterações no sistema imunológico dos bebês. A hipótese é que a exposição intrauterina aos agentes infecciosos pode remodelar a resposta imunológica das crianças, levando a diferentes graus de imuno regulação e/ou imuno comprometimento.
Os resultados vão ajudar a orientar o acompanhamento clínico de bebês com infecções congênitas, por exemplo, em relação a que vacinas eles precisam tomar e em que momento.
LUÍSA CAMPOS CALDEIRA BRANT
Professora na Universidade Federal de Minas Gerais, a pesquisadora deseja implementar o uso de aplicativos para celular no atendimento à saúde após alta hospitalar. Ela é líder na área cardiovascular e, por isso, seu foco maior está em doenças relacionadas ao campo.
Faz um tempo, Luísa contribuiu com o desenvolvimento de um aplicativo num projeto em parceria com cinco universidades norte-americanas, liderado pela Universidade de Stanford. Agora, quer adaptar a metodologia para o contexto brasileiro, orientando sobre dieta baseadas nos alimentos disponíveis no Brasil, por exemplo.
Luísa espera que, no futuro, sua plataforma digital possa ser, de fato, aplicada à prática clínica no Brasil e adaptada para o acompanhamento de pacientes com outras condições de saúde, em especial doenças crônicas não transmissíveis.
FERNANDA RODRIGUES SOARES
Com seu projeto, a professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – que hoje cursa pós-doutorado na Universidad de Extremadura, na Espanha – quer desenvolver um teste genético que ajude a orientar o tratamento de pacientes com doença coronariana com obstrução dos vasos sanguíneos do coração, adaptado para o perfil da população brasileira.
Isto porque a maioria dos estudos desenvolvidos sobre o tema se baseia em informações genéticas de populações europeias e Fernanda quer adaptar o estudo para o Brasil.
Sua intenção é identificar se os pacientes têm ou não boa chance de responder ao uso de um medicamento utilizado após a cirurgia de angioplastia, a fim de que o sangue não coagule. Para isso, deve coletar dados genéticos e clínicos de, pelo menos, 500 pacientes que passaram por essa cirurgia.
Ela acredita que, no futuro, o teste pode se tornar uma ferramenta valiosa para orientar a tomada de decisões clínicas e salvar a vida de muitos pacientes brasileiros.
Ciência Física
CAROLINA LOUREIRO BENONE
A professora da Universidade Federal do Pará se interessa em estudar buracos negros “cabeludos” e suas propriedades.
“Gostaria de entender mais sobre esses objetos na presença de matéria, essa é uma forma de pensar em como vamos conseguir, um dia, observá-los no espaço”, explica Carolina, que ainda quer investigar a estabilidade de um tipo particular de estrela: a estrela de bósons.
Apresentados há mais de um século pela Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, os buracos negros ainda são objetos celestes misteriosos, que ninguém foi capaz de observá-los diretamente, embora estejam chegando cada vez mais perto.
Ciência Química
MARCELE FONSECA
Unindo responsabilidade ambiental e ciência, a pesquisadora e professora da Universidade Federal do Pará busca tratamento alternativo para a prevenção de infecções bacterianas em feridas, como a leishmaniose cutânea.
A doença comum na região amazônica é transmitida por mosquitos e o tratamento disponível tem custo alto, com possíveis efeitos colaterais após a sua utilização prolongada. Por isso, o objetivo de Marcele é encontrar curativos eficazes e fáceis de trocar sem causar mais dor ao paciente.
Para isso, utiliza óleos e extratos de plantas da Amazônia. Com a ajuda da nanotecnologia e da bioimpressão 3D, a pesquisadora quer preparar substâncias para a aplicação em curativos tridimensionais inteligentes, que imitam tecidos biológicos e permitem a liberação controlada da medicação no local da ferida.
O desenvolvimento dessa nova proposta terapêutica passa pela exploração sustentável dos recursos naturais, com respeito às comunidades locais e incluindo o conhecimento tradicional no avanço da pesquisa médica.
Com essa abordagem inovadora, Marcele espera que, um dia, seu projeto se configure num avanço significativo no tratamento da leishmaniose e de outras doenças negligenciadas, e que esteja disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Ciência Matemática
LARISSA ÁVILA MATOS
Formada em estatística e professora na Universidade Estadual de Campinas, a pesquisadora se dedica a desenvolver métodos estatísticos para lidar com situações em que os dados não são perfeitos – por exemplo, quando faltam informações ou quando os dados são distorcidos de alguma forma.
Alguns equipamentos médicos de medição, por exemplo, têm limitações, isto é, não conseguem quantificar valores acima ou abaixo de certos limites. E a falta de dados precisosdificulta a interpretação de resultados e a tomada de decisões clínicas. Por isso, em sua pesquisa, Larissa busca soluções para lidar com essas limitações de forma precisa e eficiente.
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Foto (destaque): divulgação
Com informações da L’Oreal