Pimenta é um dos temperos mais apreciados nas aldeias do Xingu. Confere sabor às carnes de caça, aos peixes e também ajuda a conservar esses alimentos. Mas, entre os índios da etnia Waurá, algumas pimentas nativas tradicionais foram sumindo aos poucos das roças, esquecidas nas rotinas de cultivo.
“Há mais ou menos um ano, resolvemos recuperar essas pimentas tradicionais e começamos a reproduzir as mudas, principalmente de pimentas katamupo, aisapalu e aipiuná”, conta Apayupi Alexandre Kanuwariya Waurá, presidente da Associação Indígena Tulukai, do Parque Indígena do Xingu. O plantio deu certo e a primeira colheita já foi preparada para a venda fora do Xingu. “São mais ou menos 70 mulheres, todas da mesma aldeia Waurá: elas trabalham em conjunto, colhem as pimentas, secam e amassam até transformar em pó para por nos vidrinhos”.
Por sugestão de Renato Mendonça, do Instituto Socioambiental (ISA), que ajuda a associação na comercialização de seus produtos, Apayupi inscreveu o projeto de multiplicar as mudas de pimentas tradicionais no prêmio Empreendedorismo Feminino 2016, organizado anualmente pelo Instituto Consulado da Mulher, uma organização que trabalha na “transformação social por meio do incentivo ao empreendedorismo para mulheres de baixa renda e escolaridade, que vivem em comunidades vulneráveis”.
A Associação Indígena Tulukai está entre os dez grupos de mulheres agraciados e, no dia 22/9, Apayupi viaja a São Paulo para receber os R$ 10 mil do prêmio. O dinheiro já tem destino certo: será investido na melhoria do viveiro e do processamento. No viveiro, a ideia é multiplicar também outras espécies e variedades de pimentas tradicionais quase extintas. No processamento, as mulheres querem equipamentos para amassar as pimentas, para evitar que fiquem com as mãos machucadas, como acontece atualmente.
Assim, com esse empurrãozinho, muito em breve os consumidores dos grandes centros urbanos poderão experimentar pimentas vindas diretamente do Xingu. “Alguns restaurantes do Rio de Janeiro se interessaram e já mandamos 300 vidrinhos da primeira colheita”, diz Apayupi. “Agora temos uma maquininha que põe o pó nas embalagens, tudo direitinho, em gramas”.
Os pés de pimenta da próxima safra estão floridos. Logo a próxima colheita de biodiversidade xinguana estará pronta para fazer parte da alta gastronomia e ter seu sabor picante compartilhado com os novos consumidores!
Fotos: Apayupi A. K. Waurá