O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) informou que, no dia 30 de abril, foi registrada a presença do primeiro peixe-leão na Reserva Biológica Atol das Rocas. O animal, com 23 cm, foi capturado a 1,2 metros de profundidade, na piscina Garoupinha.
Segundo o ICMBio, após a retirada do peixe-leão da água, ações de monitoramento foram reforçadas na unidade de preservação marinha.
“As ações de monitoramento foram intensificadas desde que o animal foi visto em Fernando de Noronha. Após o avistamento [no Atol das Rocas], aumentamos os esforços na área que capturamos o animal e nas piscinas das imediações”, diz Maurizélia de Brito Silva, gestora da reserva.
Reconhecida como Patrimônio Natural Mundial pela Unesco, a Reserva Biológica do Atol das Rocas – único atol no Atlântico Sul – está situada a 144 milhas náuticas de Natal, no Rio Grande do Norte, e a 80 milhas de Fernando de Noronha.
Primeira reserva biológica marinha do Brasil, sua área abrange duas Ilhas – a do Farol e a do Cemitério. O local não é aberto a visitantes, apenas para pesquisas científicas. São encontradas ali diversas espécies ameaçadas de extinção, como a tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), a tartaruga-verde (Chelonia mydas), o tubarão-limão (Negaprion brevirostris), o rabo-de-palha-de-bico-vermelho (Phaethon aethereus) e o coral gorgônia (Phyllogorgia dilatata), dentre outras.
Nativo dos Oceanos Índico e Pacífico, o peixe-leão é uma espécie exótica e invasora. Predador, em seu habitat natural, ele é controlado pela cadeia alimentar, onde é presa de espécies de garoupas e até por tubarões. Mas longe desses inimigos, consegue comer mais de 20 peixes, do mesmo tamanho, em uma hora.
Além disso, se reproduz rapidamente e sem controle. Uma fêmea pode colocar até 2 milhões de ovos por ano.
Com o corpo listrado de branco e tons de vermelho, laranja e marrom, o peixe-leão tem 18 espinhos que possuem uma toxina. Em contato com a pele humana pode provocar inchaço, vermelhidão, febre e até convulsões.
Proliferação pelo litoral brasileiro
No Brasil, o primeiro registro da espécie aconteceu em 2014, no litoral de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro. Mas ao longo dos últimos anos, o número de casos vem aumentando, e parece se repetir o que aconteceu no Mar Mediterrâneo e no Caribe, onde houve uma proliferação sem controle da espécie, e ele acabou virando uma praga (leia mais aqui).
Pouco a pouco, o temido peixe tem avançado pelo litoral da região Nordeste. Em abril de 2022, vários deles apareceram em praias do Ceará. O estado entrava na lista de várias outras localidades onde a espécie já estava sendo avistada, como em municípios do Piauí, em recifes da foz do Rio Amazonas, entre o Amapá e Pará.
Mais recentemente, em março deste ano, foi a vez da chegada ao litoral de Pernambuco e há poucas semanas, da Paraíba (veja nesta outra reportagem). Somente num final de semana, 24 deles foram capturados em Fernando de Noronha.
“É a invasão mais rápida que já vi na história do Brasil. Eu estou impressionado, e isso traz uma situação gravíssima”, disse Marcelo Soares, pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará, em entrevista ao portal de notícias UOL.
Os peixes-leões coletados estão sendo enviados para o Departamento de Biologia da Universidade Federal Fluminense e para a Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, onde são analisados, dessa maneira é possível entender seu comportamento em Noronha, como por exemplo, velocidade da reprodução, tamanho médio e do que ele tem se alimentado.
Não toque no peixe-leão!
A recomendação de especialistas é que não deve se tocar ou tentar manusear a espécie. Caso alguém aviste ou tenha informações sobre o peixe-leão no Brasil, deve repassar os dados através do SIMAF ou entrar em contato com cientistachefesema@gmail.com.
Pescadores não devem devolvê-lo ao mar e logo que possível, buscar os órgãos competentes e informar o acontecido.
Neste guia elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) você encontra mais dicas e informações.
*Com informações do site do ICMBio
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Foto de abertura: Jens Petersen, CC BY-SA 3.0 via Wikimedia Commons