Claudecy Oliveira Lemes, de 52 anos, é pecuarista e tem 11 fazendas no município de Barão de Melgaço, no Mato Grosso. Ele está sendo investigado por desmatar uma grande área no Pantanal – 81 mil hectares, o equivalente a 810 km2 ou do tamanho da cidade de Campinas, em São Paulo – com produtos químicos altamente tóxicos, para transformá-la em pasto para bois, de acordo com informações do Ministério Público Estadual (MPE/MT).
A prática desse tipo de desmate – que joga toneladas de agrotóxicos sobre a mata preservada – é ilegal. Utiliza substâncias altamente tóxicas que, neste caso, foram identificadas nas amostras de vegetação, água, solo e sedimentos coletadas e analisadas pela Politec – Perícia Oficial e Identificação Técnica.
Na pulverização aérea, o fazendeiro utilizou 25 agrotóxicos diferentes, entre eles quatro herbicidas capazes de desfolhar e matar árvores – que afetam fauna e água também: imazamox, picloram, 2,4-D e fluroxipir. Todos têm “potencial de periculosidade ambiental 3”, ou seja, são extremamente perigosos para o meio ambiente.
Entre eles, o 2,4-D (ácido diclorofenoxiacético) é o mais potente por ser um dos componentes do chamado agente laranja, conhecido por seus efeitos ambientais devastadores e utilizado pelos EUA na Guerra do Vietnã (1961/1971).
Na verdade, 2,4-D é o próprio princípio ativo do herbicida patenteado pela Dow Chemical Company e Union Carbide em 1947. O segundo mais comercializado no Brasil e o terceiro, no mundo.
Além do fazendeiro, outras duas pessoas também são alvos da investigação: o piloto do avião, que despejou os agrotóxicos sobre a vegetação nativa, e o técnico que escolheu os produtos químicos, determinando quantidade, frequência e forma de aplicação.
Compras e notas suspeitas
A quantidade de dinheiro gasta pelo empresário na compra dos agrotóxicos, em três anos, também chama a atenção dos investigadores.
Em sua empresa, foram apreendidas notas fiscais que revelam que, em apenas um ano (fevereiro de 2021 a fevereiro de 2022), ele gastou mais de R$ 9,5 milhões em agrotóxicos de distribuidoras diversas.
Também foram encontradas 76 notas fiscais eletrônicas emitidas entre fevereiro de 2022 e março de 2023 para o fazendeiro por revendedoras de produtos agrotóxicos, somando mais de R$ 15,6 milhões em compras.
Reincidente
Como se não bastasse o desmate criminoso – tanto pelas substâncias utilizadas como pelo tamanho da área destruída -, as 11 propriedades de Claudecy estão localizadas no Pantanal – planície alagável da bacia do Alto Paraguai -, que é Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera, reconhecido pela Unesco.
Além disso, esta não é a primeira vez que Claudecy é alvo de ações penais (esta é a quarta!) e inquéritos civis (este é o nono!).
Soma-se a isso o fato de que o pecuarista também foi multado em mais de R$ 2,8 bilhões. Segundo a Folha de SP, “as multas se referem a nove autos de infração e nove termos de embargo e interdição, lavrados somente em julho e agosto de 2023”.
Denúncias anônimas levaram à atual investigação criminal e o MPE aponta “gravíssimos crimes ambientais reiterados” em, pelo menos, sete dos 11 imóveis rurais contíguos (que somam 81 mil hectares), localizados em Barão de Melgaço (MT), segundo a Folha de SP.
Algumas medidas judiciais já foram obtidas com a investigação, como o bloqueio de imóveis rurais e a proibição de viagens ao exterior. Mas a Justiça estadual negou prender o pecuarista. Insatisfeito com essa decisão, o MPE declarou que vai recorrer.
“Em que pese as condutas praticadas por Claudecy com vistas a desmatar as áreas e convertê-las em pastagem exótica estejam ocorrendo há algum tempo, somente foram desnudadas pelo estado de Mato Grosso em 2023″, destaca o MPE, citando “diversas autuações administrativas” ocorridas já no ano passado.
E a promotoria acrescenta: “Todavia, o que se nota é um nítido escárnio do investigadopara com os órgãos de controle, uma vez que, mesmo embargadas, as áreas continuam em plena utilização com as atividades agropecuárias”. Escárnio que se revela nas declarações da defesa também.
As empresas de Claudecy estão sendo administradas por uma empresa escolhida pela Justiça até que terminem as investigações sobre este crime ambiental gigantesco.
O que diz a defesa do pecuarista
Fernando Faria, um dos responsáveis pela defesa de Claudecy, declarou que ele não cometeu crimes ambientais.
Em nota encaminhada à Folha de SP, a defesa ainda disse que a degradação da área, da qual está sendo acusado, é resultante dos incêndios de 2020 a 2023, e que o inquérito policial “produziu provas unilateralmente, sem o exercício do contraditório”.
Mais: a defesa afirmou que seu cliente está comprometido “não apenas com o esclarecimento dos fatos objetos da investigação, mas com a sua irrestrita responsabilidade ambientale com o desenvolvimento econômico da região”.
Fase final
O inquérito já está em fase final de conclusão e conta com a colaboração de órgãos como Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica), Dema (Delegacia Especializada de Meio Ambiente) e Ciopaer (Centro Integrado de Operações Aéreas).
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Fontes: Fantástico/TV Globo, G1, Folha de SP
Fotos: reprodução do vídeo/Fantástico
Inadmissível um criminoso e assassino como esse estar livre!