Eles são minúsculos e durante a noite conseguem facilmente se camuflar no meio da escuridão da floresta. Todavia, o perigo chega de dia, quando os sapos-de-vidro dormem, e podem se tornar presas fáceis para seus predadores. Apesar de passarem despercebidos embaixo de folhas e galhos por causa de sua pele verde transparente, ainda assim seus órgãos e veias sanguíneas ficam visíveis.
Mas pesquisadores da Duke University, nos Estados Unidos, descobriram que os sapos-de-vidro da espécie Hyalinobatrachium fleischmanni desenvolveram um mecanismo inusitado para que seu sangue não seja visto através da pele: eles escondem os glóbulos vermelhos dentro do fígado enquanto estão em repouso.
“O que normalmente ocorre é que quando estão em repouso e vulneráveis à predação, os sapos-de-vidro filtram quase todos os glóbulos vermelhos do sangue e os escondem no fígado – de alguma forma, evitando a criação de um enorme coágulo de sangue no processo”, explica Sönke Johnsen, professor de Biologia da Duke University. “E sempre que os sapos precisam se tornar ativos novamente, eles trazem as células de volta para a corrente sanguínea, o que lhes dá a capacidade metabólica de se movimentar”.
A descoberta só foi possível graças a uma série de exames de imagens realizados em laboratórios. Com o uso da técnica de fotografia colorida calibrada mediu-se a transparência dos sapos em momentos diferentes: durante o sono, a vigília, coaxando, após o exercício físico e sob anestesia.
“Quando os sapos-de-vidro estão acordados, estressados ou sob anestesia, seu sistema circulatório está cheio de glóbulos vermelhos e eles são opacos”, revela Jesse Delia, biólogo do American Museum of Natural History.
O mesmo sapo fotografado dormindo, à esquerda, e enquanto ativo, à direita:
quando acordado é possível ver o sistema circulatório
(Foto: Jesse Delia)
Após a constatação surpreendente, relatada num artigo científico na revista Science, os pesquisadores querem entender agora como a espécie conseguem armazenar os glóbulos vermelhos no fígado sem provocar a formação de um coágulo ou danificar os tecidos periféricos.
“Um próximo passo em potencial pode ser estudar esse mecanismo e como ele, um dia, se aplicará a problemas vasculares em humanos”, diz o biólogo Carlos Taboada, outro pesquisador da Duke University e autor principal do artigo publicado sobre o assunto.
Enquanto no oceano é possível ver muitas espécies com a habilidade de se tornarem transparentes, isso é mais difícil para os vertebrados terrestres, já que eles possuem glóbulos vermelhos no sistema circulatório.
Gravação mostra a transparência do sapo-de-vidro em diferentes estágios: dormindo,
após exercício e anestesiado
(Vídeo: Jesse Delia/Science Alert)
*Com informações e entrevistas do Departamento de Comunicação da Duke University
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Foto de abertura: © Jesse Delia