De maneira leviana, ontem (23/10), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deu uma declaração no Twitter, tentando associar a organização internacional Greenpeace com o vazamento de óleo no litoral nordestino.
“Tem umas coincidências na vida né… Parece que o navio do #greenpixe estava justamente navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro bem na época do derramamento de óleo venezuelano…”, escreveu Salles.
Quatro horas depois, em nova postagem, o ministro continuou o ataque. “Presidente, o navio do Greenpeace confirma que navegou pela costa do Brasil na época do aparecimento do óleo venezuelano, e assim como seus membros em terra, não se prontificou a ajudar”.
Provavelmente Salles estava irritado com a manifestação feita pelo Greenpeace esta semana, em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. Ativistas jogaram piche e simularam um derramamento de óleo, “… igual ao que o governo do Brasil se negou, por mais de um mês, em mitigar os efeitos. Manchas escuras e totalmente diferentes da imagem “limpa” que o governo tenta vender ao exterior”, denunciou a organização.
Registro da manifestação do Greenpeace em Brasília
Hoje, após a declaração do ministro nas redes sociais, o Greenpeace divulgou uma nota esclarecendo sobre a localização do seu navio.
Durante os meses de agosto e setembro, o Esperanza, nome do navio da organização, estava na Guiana Francesa, e depois, seguiu para o Uruguai. “Se o ministro Ricardo Salles se preocupasse de verdade com o meio ambiente, saberia o que o nosso navio estava fazendo na Guiana Francesa – defendendo os oceanos do petróleo”, afirmou o Greenpeace em suas redes sociais.
A ONG esclareceu ainda, ao jornal Folha de S. Paulo, que o Esperanza “é uma embarcação híbrida, de classe Yacht, e habilitada para transporte de carga e de passageiros, mas que não dispõe de estrutura para armazenamento e transporte de petróleo, atividade que requer autorização de órgãos do governo”.
Diante da grande repercussão, a ONG afirmou que entrará na Justiça contra o ministro. “Tomaremos todas medidas legais cabíveis contra todas as declarações do Ministro Ricardo Salles. As autoridades têm que assumir responsabilidade e respondem pelo Estado de Direito pelos seus atos.”
O Greenpeace também uso o mesmo Twitter para devolver as ofensas a Salles. “Novamente @rsallesmma cria falsas acusações para esconder sua incompetência em agir e proteger as pessoas e o meio ambiente. Sua postura não é digna do cargo que ocupa. Quem nos acusa sofreu CONDENAÇÃO por fraude ambiental e MENTIU que estudou em Yale” (entenda sobre o caso da condenação nesta outra reportagem).
Em defesa do Greenpeace
Diversas outras entidades e associações da sociedade civil se pronunciaram sobre as postagens (mentirosas) de Ricardo Salles.
Em nota, o WWF-Brasil afirmou que “Diante do maior desastre ambiental na costa brasileira com a contaminação das pessoas, praias, corais e mangues no Nordeste, ao invés do governo federal agir, mais uma vez ele criminaliza as organizações não governamentais da sociedade civil.
O ataque irresponsável do Ministro Ricardo Salles ao Greenpeace acusando a organização de estar por trás do derramamento do óleo é mais um capítulo dessa gestão que, ao invés de cumprir seu papel de governo, prioriza criar polêmicas vazias.
O WWF-Brasil se solidariza com o Greenpeace e todas as pessoas, ONGs e pesquisadores que estão trabalhando arduamente como voluntárias para atuar nesse desastre. Estamos, juntos, coletivamente, trabalhando nas soluções”.
O Observatório do Clima, que é uma coalizão de várias organizações brasileiras, também mostrou apoio ao Greenpeace e repúdio contra as insinuações de Salles.
“O Observatório do Clima vem manifestar sua solidariedade ao Greenpeace, organização integrante da rede, que vem sofrendo ataques covardes e caluniosos do condenado por improbidade que ora comanda o Ministério do Meio Ambiente.
Assim como opta por ignorar seu papel como agente público na defesa do patrimônio ambiental dos brasileiros e por desprezar o decoro exigido pelo cargo, Ricardo Salles (Novo-SP) também demonstra desconhecer a função da sociedade civil no regime democrático. Organizações como o Greenpeace têm como missão vigiar o poder e apontar seus erros e abusos. Infelizmente, o governo Bolsonaro e a atual gestão do Ministério do Meio Ambiente têm mantido o Greenpeace e o restante da sociedade civil bastante ocupados.
Desde a eleição o Observatório do Clima, representando quase 50 entidades, tem dito que não normalizaria a erosão dos valores democráticos e não se calaria diante do desmonte de instituições como o Ministério do Meio Ambiente. Repetimos esse compromisso e, a exemplo do Greenpeace e ao lado deste, seguiremos lutando por um Brasil democrático, justo e sustentável.
O Greenpeace anunciou que Ricardo Salles responderá judicialmente por mais uma barbaridade cometida no cargo que ele nunca esteve apto a ocupar. Se tivesse um pingo de decência, renunciaria”.
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Fotos: reprodução Twitter (abertura) e Adriano Machado/Greenpeace (protesto)
Greenpeace, você é a nossa Esperanza.