Era dia de levar brinquedo na escola. A mãe, então, perguntou: “O que você quer levar hoje?”. E o menino rapidamente respondeu: “Meu brinquedo favorito… gravetos!!”.
Sem titubear, a mãe pegou uma sacola de pano e deu para o filho. O menino juntou seus preciosos gravetos e, sorrindo, foi pra escola.
Mais tarde, ao buscá-lo, a mãe reparou que o filho tinha as feições tristes. “O que aconteceu?”. “Meus amigos falaram que graveto não é brinquedo”. E a professora tinha um recado para mim: queria conversar. E disse: “Mãezinha, na próxima semana mande um brinquedo pra ele brincar”.
Triste e emocionada com a situação, a mãe compartilhou essa história numa das rodas de conversa que promovemos sobre a importância de brincar com a natureza. Por isso, resolvemos escrever sobre ela.
Ficamos super felizes ao ouvir o relato dessa mãe sobre sua família, que valoriza o contato com a natureza e coleta gravetos porque vislumbra que, com eles, seu filho pode criar milhões de brincadeiras. Ficamos felizes também por saber que esse menino reconhece o poder dos gravetos.
E é desse poder que precisamos falar! Desse poder que a escola onde esse menino estuda não reconhece e, assim, não reconhecendo o valor da natureza, ensina os colegas e as professoras desse menino a não reconhecerem também. A se afastarem cada vez mais da natureza.
O que é um graveto? Não! Ele não é apenas um graveto. Quando acompanhado de imaginação (principalmente das crianças) um graveto pode ser muito, pode se transformar no que a criança quiser.
Um graveto pode ser uma vara de pescar, uma espada, uma chave, uma varinha mágica, uma colher, uma agulha de tricô, um lápis, um sanduíche. Já presenciamos gravetos virando flecha, bandeira, cabana… Já vimos muitas versões das possibilidades de transformações dos gravetos. E é essa versatilidade que todo elemento da natureza tem que faz com que o graveto seja um brinquedo muito mais inteligente do que os fabricados, aqueles que a gente compra.
É um brinquedo inteligente porque permite pensar, imaginar, criar. Não tem um graveto igual ao outro. Suas cores e texturas variam incessantemente e, por isso mesmo, estimulam a imaginação e possibilitam um aprofundamento na relação com os materiais.
Aliás, pensando nisso, o que é mesmo um brinquedo?!
Pra nós, brinquedo é tudo com o que se brinca. E para o brincar acontecer, é preciso ação. E que graveto que não é brinquedo? Quanta ação está nele contida?
Quando uma criança ganha uma varinha mágica de brinquedo, aquela varinha sempre será uma varinha. Brinquedos de plástico, que dizem o que são, trazem consigo uma série de regras de como brincar, são brinquedos sem graça, que dizem o que fazer com eles ao primeiro olhar, nos direcionam para uma ação específica, sugerem uma ideia estanque. Além disso, via de regra os brinquedos são inventados por adultos e, muitas vezes, fazem mais parte do universo adulto do que do universo das crianças.
Gravetos e outros elementos naturais são muito mais do que parecem ser. Eles tem na essência a capacidade de serem o que alguém bem quiser, seja lá o que for. E de que as crianças precisam? De possibilidades para estar no mundo! De liberdade pra imaginar e criar.
Um simples graveto pode ser o melhor brinquedo.
Foto: Moipe/Pixabay
♥ A professora deveria ter contornado a situação, (dele ficar triste e não de levar gravetos), aproveitando situação/oportunidade para ensinar exatamente o que diz esse texto para todos os alunos…
Tudo é um brinquedo, quem manda é a sua imaginação… e ele poderia interagir com todos usando o seu brinquedo-multi.
Acontece que muitos professores se deixam engolir pelo modelo engessado, pelo mais óbvio e até pelo preconceituoso…. um grande déficit na educação de nossos pequenos.
Esse texto é pura poesia!
Eu, como professora, iria sugerir aos meus alunos, que saíssemos a procurar um graveto e desafiaria- os a criar um brinquedo com esses gravetos, mais adiante uma escultura e por aí iria, mostrando que no mundo da imaginação, mudamos o mundo e o coração.