O artista franco-tunisiano Jean Paul Ganem é um paisagista muito especial: expert em Land Art (arte da terra, em tradução livre), cria com os recursos oferecidos pela natureza e revitaliza espaços abandonados e mal-cuidados em projetos que ainda transformam a relação das comunidades com o entorno, deixando um legado social e artístico.
Ele assina mais de 50 jardins em países como Canadá, França, Espanha e Alemanha. Ao Brasil, vem desde 2010, ano em que revitalizou o boulevard externo do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Dois anos depois, criou a obra O Caminho do Rio, no Jardim Botânico de São Paulo. E, desde 2017, desenvolve projetos na Fazenda Serrinha, no interior de São Paulo.
Este mês, Jean Paul voltou a São Paulo para instalar a land art Renda Guaianás no Parque Municipal Linear de Guaratiba, na zona leste da cidade, idealizada em parceria com a eco cozinheira e permacultora Bia Goll, que conheceu há seis anos em Paris.
Inaugurada em 20 de agosto, a obra cobre quase 20% da área total do parque com canteiros ornamentais e comestíveis e marca o início da primeira edição do Projeto Jardins Comestíveis.

Renda Guaianás
Localizado ao longo do Ribeirão Guaratiba, afluente do Rio Itaquera, no bairro de Guaianases, o Parque Municipal Linear Guaratiba tem quase 30 mil m² de área e se configura um oásis num deserto de concreto, resultado da ocupação desordenada da região.
Sua vegetação é formada por gramados e arborização esparsa. São 33 as espécies que compõem a fauna local; a maioria, aves.
Para começar a transformar a paisagem, o artista traçou, no solo, desenhos ‘arabescados’, que lembram refinados jardins de castelos franceses.
Em seguida, os desenhos ganharam formas e cores variadas com a instalação de 2 mil caixotes de feira com cerca de 8.400 mudas. Cada um dos caixotes é como uma mini horta com flores, verduras, legumes e PANCs (plantas alimentícias não convencionais), que, visto de cima, representa um ‘pixel’ do desenho, na linguagem digital (veja no vídeo no final deste post).
Entre as espécies selecionadas para este jardim/horta estão: sálvia vermelha, flor-de-mel, tagete, peixinho-da-horta, lambari, rabo-de-galo, alface e beterraba.
A produção das mudas foi realizada pelo projeto Horta da Vila Nancy, com um detalhe: esta foi a primeira vez que sua produção tomou proporção de grande escala, o que impactou na perspectiva de renda das pessoas envolvidas no projeto. Foi um desafio e tanto, e muito compensador. Com 33 anos de existência e ocupando um terreno de 6 mil m2, a Horta sempre operou em pequena escala.
Mas, para ir além da beleza da obra, até 23 de setembro, o projeto Jardins Comestíveis também contempla a realização de oficinas gratuitas de jardinagem, permacultura, comunicação e gastronomia para mais de 350 pessoas, moradoras da região. Mas, se você tiver interesse, entre em contato por e-mail (projetojardinscomestiveis@gmail.com) e se inscreva.
Por ser produzida com plantas, a obra se transforma diariamente, de acordo com seu desenvolvimento e o clima, obedecendo o ritmo da natureza. E já está marcada para 25 de setembro a cerimônia de encerramento do projeto, que terá uma celebração especial, definida com base na lógica da permacultura: as mudas comestíveis serão doadas para moradores da comunidade, que serão convidados a iniciar mini hortas em suas casas.
“Esta obra é a materialização de um conjunto de ações que envolvem arte, permacultura, alimentação e fortalecimento comunitário”, contam Jean Paul e Bia.
Arte + permacultura + gastronomia
Jardins Comestíveis é uma iniciativa do Fértil Coletivo, formado por Jean Paul e Bia, além de outros profissionais que compartilham os mesmos propósitos (conheça todos aqui).
O projeto “intersecciona arte, permacultura e gastronomia para realizar ações defortalecimento e visibilidade com comunidades urbanas em situação de vulnerabilidade“. Por isso, trabalha sempre em parceria com iniciativas que já atuam “nos territórios por onde passa”, como aconteceu com o Parque Municipal Linear Guaratiba.
O objetivo é “colocar a produção e o consumo de alimentos no centro das ações para atuar como vetor na ressignificação da relação dos moradores de grandes centros urbanos com a comida, a cidade, os espaços públicos e suas paisagens”, explicam.
Para compreender melhor a dimensão deste projeto lindo, assista a dois vídeos produzidos com drone, por Alexandre Suplicy, no parque de Guaratiba, que reproduzo abaixo. No primeiro, o drone parte do centro da obra; no segundo, parte de onde está Jean Paul. Nos dois, dá pra compreender melhor a dimensão da Renda Guaianás e de sua localização na paisagem.
Quem não mora em São Paulo, pode acompanhar os Jardins Comestíveis pelas redes sociais: Facebook, Instagram, Pinterest e YouTube. Também vale muito seguir os perfis do artista Jean Paul Ganem e da eco cozinheira Bia Goll no Instagram.