Num vídeo com pouco mais de 9 minutos, divulgado na noite de segunda-feira (17/10), com muita educação e elegância, como sempre, o cantor Seu Jorge veio a público falar sobre o episódio inaceitável que vivenciou no último final de semana em Porto Alegre. Durante um show no Grêmio Náutico União o artista sofreu ataques racistas, que foram denunciados pelas redes sociais.
Seu Jorge foi contratado pelo clube para se apresentar durante um “jantar de gala”, onde segundo ele, os presentes, cerca de 800 pessoas, eram na grande maioria brancos. De acordo com alguns relatos de quem estava lá, tudo transcorria bem até que o cantor apresentou um jovem, de 15 anos, exímio tocador de cavaquinho.
Após o fim da música, Seu Jorge criticou a redução da maioridade penal e se manifestou contra a morte de negros que vivem em comunidades. O artista e sua banda deixaram então o palco e deveriam retornar para o “bis”, como é de praxe, mas dos bastidores começaram a ouvir insultos e xingamentos como “vagabundo, safado” e ainda, pessoas imitando os sons que macacos fazem.
Sem tocar o bis, somente Seu Jorge voltou ao palco e falou um “Fiquem bem”, ao público.
No vídeo em que fala sobre o ocorrido, o cantor aparece em frente a um cenário vermelho em que a bandeira do Rio Grande o Sul é reproduzida. Logo no começo, ele fala sobre os grandes artistas gaúchos que admira, como Elis Regina. Mas logo em seguida, começa a descrever o que aconteceu.
“Não reconheci a cidade que aprendi a amar e respeitar. Não era a cidade que eu conhecia, dos inúmeros shows com as bandas amigas. Na verdade, o que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista”, lamentou.
Seu Jorge agradeceu todo o apoio recebido e as inúmeras mensagens de repúdio ao racismo e reafirmou sua luta contra o preconceito.
“Nunca, jamais, nos curvaremos ao racismo e à intolerância, seja ela qual for. Não cederemos um milímetro sequer ao ódio e combateremos e cobraremos das autoridades que a justiça prevaleça e os criminosos sejam devidamente punidos. A lei é pra ser cumprida. E assim conclamo a grande nação afro-brasileira a se integrar aos movimentos sociais brasileiros que existem mais próximos da sua cidade”, afirmou.
A Polícia Civil já instaurou um inquérito para investigar o caso e solicitou ao clube imagens de câmeras internas. Em nota, o Grêmio Náutico da União, que irá realizar uma entrevista coletiva nesta terça-feira, às 14h, declarou que “está colaborando com as investigações relativas à possibilidade de ocorrência de racismo durante apresentação do cantor, que se comprovado o crime, os envolvidos serão responsabilizados… e que repudia qualquer tipo de discriminação”.
Leia também:
“Como mulher branca, minha fala é validada, mas as mulheres pretas são tachadas de loucas”, diz Giovanna Ewbank
Multidão se revolta contra caso de racismo no metrô de SP: mulher pediu que passageira negra “cuidasse com cabelo, que poderia passar alguma doença”
Empresária usa redes sociais para denunciar que foi vítima de racismo em frente à uma padaria no bairro de Ipanema, no Rio
Foto: reprodução Facebook Seu Jorge