“Nós, que vivemos no campo, conhecemos sons”, diz Donald Valera Soto. O fazendeiro e naturalista costarriquenho se gaba, com razão, do ouvido muito bem treinado. Graças à audição pra lá de aguçada, ele conseguiu identificar uma nova espécie de perereca no meio do coaxar de dezenas de outras.
Soto é um dos proprietários de uma fazenda que ele transformou numa reserva natural, a Tapir Valley Nature Reserve, em Bijagua, ao norte da Costa Rica. A primeira vez que ele ouviu o coaxar dessa perereca foi em 2018. Tinha chovido muita na região e ele estava trabalhando perto de uma lagoa num pântano. Mas foi somente seis meses depois de reparar na vocalização, que soava diferente, que o naturalista – com a ajuda de familiares, além de uma bióloga e um herpetologista (especialista em répteis e anfíbios) – conseguiu finalmente achá-la, após muitas caminhadas e buscas noturnas, horário em que esses animais estão mais ativos.
“Cresci nas florestas, andando por aí e aprendendo a identificar espécies de árvores, pássaros e sapos. Escutei essa perereca e foi quase impossível encontrá-la, já que estava muito bem camuflada”, conta ele.
Agora, cerca de quatro anos depois daquele primeiro encontro, a nova espécie foi reconhecida oficialmente pela ciência. Num artigo científico publicado recentemente no periódico Zootaxa, e que tem Soto como autor principal, o grupo descreve a perereca-do-vale-do-tapir (Tlalocohyla celeste), que tem no seu nome científico uma alusão ao rio Celeste, que passa pela região.
Com cerca de 2 centímetros, entre suas principais características estão uma linha amarela que vai até a metade de suas costas, além da axila azul e manchas vermelhas ao longo do corpo.
“Eu amo essa perereca porque ela conta uma história maior”, diz Esteban Brenes Mora, associado sênior da organização Re:wild na Mesoamérica. “Quando Donald fundou a Tapir Valley Nature Reserve, era para proteger as antas e ajudá-las a se mover entre as florestas. Ele não sabia que havia espécies completamente novas para a ciência vivendo na reserva, mas se ele não tivesse protegido este lugar para as antas, talvez não tivéssemos descoberto essa perereca”.
A perereca-do-vale-do-tapir
*Com informações e entrevistas do site Re:wild
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Fotos: Juan G. Abarca/Re:wild