O ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet foi condenado pela Justiça a pagar R$ 5 milhões devido a falas racistas e homofóbicas que proferiu durante entrevista a um canal de notícias no YouTube, em 2021, contra o piloto inglês Lewis Hamilton (contamos aqui).
No vídeo, Piquet conta sobre episódio que envolveu Hamilton e Max Verstappen, piloto do Red Bull Racing e seu genro, no GP da Inglaterra, naquele ano. Acusa-o de provocar a batida e o chama de “neguinho” por duas vezes. E, em outro trecho, ainda faz um comentário homofóbico contra o hectacampeao e ofende um colega de pista e um de seus grandes rivais, Keke Rosberg
“Era um bosta. Não tinha valor nenhum”, diz e, em seguida, compara Rosberg ao filho Nico, campeão da categoria em 2016, voltando a falar de Hamilton: “É que nem o filho dele (Nico): ganhou um campeonato! O ‘neguinho’ devia estar dando mais o c* naquela época, aí tava meio ruim”.
Quase um ano depois da polêmica, a 20ª Vara Cível de Brasília publicou, em 24 de março, decisão que condena Piquet. De acordo com Pedro Matos de Arruda, juiz responsável pela sentença, a ofensa de Piquet “pode ser sintetizada da seguinte forma: não importa o quanto se destaque, não importa o quão boa a pessoa é em qualquer aspecto. Se for negra e homossexual, é só um neguinho gay“.
Na sentença, o ex-piloto é condenado a pagar R$ 5 milhões – metade do que foi pedido por Marlon Reis, advogado do escritório que patrocinou a ação – a título de indenização por danos morais coletivos, ou seja, o valor será destinado a entidades de luta pela igualdade racial e contra a LGBTfobia.
A defesa ainda pode recorrer sobre a decisão. Reis diz que, apesar da diminuição do valor solicitado, a decisão foi positiva, não vai recorrer e elogiou o magistrado: “Ele deu uma aula de direito antidiscriminatório, um tema que pouco se fala no sistema jurídico brasileiro, e apesar de alguns dos nossos pedidos terem sido afastados, a sentença foi tão bem fundamentada, que nos convenceu” disse à Folha de SP.
O episódio e a repercussão
A entrevista voltou às redes sociais em junho de 2022 e viralizou, causando indignação e repercussão internacional. Na época, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e a equipe da Mercedes (na qual Hamilton está desde 2013) condenaram a atitude de Piquet.
Dias depois, Hamilton declarou em seu Twitter, em português: “Vamos focar em mudar essa mentalidade”. E continuou em inglês: “É mais do que linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Eu fui cercado e alvo dessas atitudes a minha vida toda. Já houve bastante tempo para aprender. Chegou a hora da ação!”.
Piquet, por sua vez, negou qualquer conotação racista (não comentou sua homofobia), dizendo que a expressão utilizada por ele faz parte do vocabulário brasileiro e que houve um erro de tradução. Depois publicou uma carta de desculpas.
Mas os dirigentes da F1 não caíram na ladainha do ex-piloto e o puniram: Piquet foi banido do paddock das provas da categoria, ou seja, não pode mais circular pelos boxes das equipes durante as provas, como sempre fez.
Bolsonarista raiz
Nelson Piquet nunca escondeu seu apoio incondicional a Bolsonaro. No dia da posse deste como presidente, em 2019, dirigiu o carro conversível que o conduziu em celebração à volta do Palácio do Planalto, após receber a faixa das mãos de Michel Temer.
Em novembro do ano passado, foi alvo do Ministério Público Federal (MPF) devido a declarações – consideradas violentas e de incitação ao crime – sobre o presidente Lula, que acabara de ser eleito. Nunca falha!
Se você ainda quiser assistir às falas racistas e homofóbicas, reproduzo dois tweets com os trechos deploráveis da entrevista:
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Fotos: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil (Piquet) e reprodução do Instagram de Lewis Hamilton
Fontes: G1, Folha de SP