Há dois meses especialistas da área de conservação já tinha dado o primeiro alerta. A Flórida tinha registrado um número recorde de mortes de peixes-bois. Entre janeiro e março, mais de 430 peixes-bois foram encontrados sem vida. Na época, como contamos aqui, um dos motivos para a alta mortalidade poderia ter sido o frio intenso que atingiu o estado americano. Estes mamíferos aquáticos são muito vulneráveis às mudanças climáticas, como alterações bruscas de temperatura e a acidificação da água do oceano.
Todavia, o clima já está quente e os peixes-bois continuam morrendo em números nunca antes vistos. De acordo com informações do Florida Fish and Wildlife Conservation Commission, em 2019 foram registrados 607 óbitos, no ano passado 637 e este ano, apenas entre 1o de janeiro e 21 de maio, já são 749 mortes.
A situação atingiu um estado tão crítico que foi declarado um “Evento de Mortalidade Atípico” por órgãos de proteção de animais nos Estados Unidos.
As principais causas para morte de peixes-bois são perda de habitat, colisões com barcos (como esses animais se movem lentamente e precisam emergir para respirar, eles são especialmente vulneráveis a colisões), falta de áreas de alimentação (e alimentos), marés vermelhas/algas tóxicas e poluição.
Um exemplo é o que acontece no estuário de Indian River Lagoon. Habitat de 1/3 dos peixes-bois do país, que em algum momento vivem ali, o local teve uma perda de quase 60% de sua vegetação na última década e apresenta uma enorme quantidade de micropartículas de plástico em suas águas.
Peixes-bois: a caminho da extinção
Existem quatro espécies de peixes-bois no mundo e uma delas, a Trichechus manatus, sempre foi muito comum nas águas da Flórida (lá ele é chamado de manati). Infelizmente, ela está ameaçada de extinção. Depois de décadas com números em declínio, principalmente nos anos 90, a população da espécie voltou a se recuperar durante alguns, nos últimos anos, o cenário é muito preocupante.
De acordo com dados divulgados pela organização Public Employees for Environmental Responsibility (PEER), o levantamento de peixes-boi feito no estado, em 2017, apontava um número de 6.620 indivíduos. Dois anos depois, em 2019, no último censo feito até agora, percebeu-se uma queda: foram contabilizados 5.733 animais.
Há um temor que a espécie desapareça por completo do estado americano.
Com cara arredondada, olhos pequenos e corpo roliço, estes animais podem ter sua cor variando entre cinza e marrom-acinzentado. Eles não possuem orelhas, mas escutam muito bem. Os ouvidos são dois pequenos orifícios, localizados um pouco atrás dos olhos.
Extremamente dócil, o peixe-boi é um gigante das águas. Pode chegar a pesar 600 quilos e medir até quatro metros de comprimento.
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*Atualizado às 19h40 para corrigir o número de mortes de peixes-bois em 2019 e 2020.
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Fotos: NOAA/unsplash (abertura) e U.S. Fish and Wildlife Service Headquarters/David Hinkel/Creative Commons/Flickr