O registro de cervos chital (espécie Axis Axis) circulando livremente no sul do país, está cada vez mais comum e preocupa os especialistas devido ao desequilíbrio ecológico que provocam.
O mais recente foi feito no último domingo, 17 de julho: o animal corria na calçada da rua Wolfgang Weege, no bairro Parque Malwee, em Jaraguá do Sul, município de Santa Catarina. Mas, de acordo com relato de moradores, andava pela região desde sexta-feira.
O autor das imagens divulgadas nas redes sociais não foi identificado, mas a prefeitura confirmou a veracidade do fato. Agentes da Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente (Fujama) foram em seu encalço, mas não o encontraram. Até o fechamento deste texto, ele não tinha sido capturado, o que é muito preocupante.
No post que publicou em seu Instagram, o biólogo Christian Raboch, da Fujama, que participou das buscas, chamou a atenção para o porte do animal (pesquisei a respeito e ele pode pesar 110k e ter 1,10m de altura) e enfatizou por que, apesar de tão bonito, não é bem-vindo:
“Repare que ele é um animal grande, com pintinhas e chifres. Um animal bem bonito, mas que não é tão bonito assim porque é de uma espécie exótica invasora na nossa região. Essa espécie foi introduzida em Santa Catarina certamente por causa de fazendas de caça. A espécie provavelmente pulou as cercas das fazendas e se reproduziu no meio da floresta”.
Especula-se que os cervos dessa espécie tenham migrado de fazendas de caça localizadas no Uruguai e na Argentina. Mas ainda há a possibilidade de que tenham escapado de criadouros estabelecidos em Santa Catarina, como explicou o biólogo Jackson Preuss, à MDTV, em fevereiro deste ano.
Criar o Axis Axis em cativeiro no Brasil, é crime ambiental, a menos que o criador tenha autorização do Ibama, justamente para que se responsabilize pelo controle da espécie.
Quando um cervo é encontrado livre – seja na área rural, em florestas ou em áreas urbanas -, os órgãos competentes o capturam e verificam se ele pertence a um criadouro autorizado. Se sim, o animal é devolvido e o estabelecimento, multado. Mas, se não, o Ibama procura um local autorizado para doar o animal, e fecha o estabelecimento irregular.
O Chital foi considerado como animal exótico e invasor em 2013. Entre os desequilíbrios causados pela espécie estão a alteração da composição do meio ambiente e a competição pelos recursos naturais com espécies de cervos nativos, principalmente o veado-campeiro, que é bem menor que o Axis Axis.
Mas Raboch destaca mais dois problemas: “a questão de zoonoses (transmissão de doenças entre animais e pessoas; lembre-se do coronavírus!) e, também, da possibilidade de reprodução de híbridos”, como aconteceu com o javali, cuja criação é proibida e a caça, permitida. Ao cruzar com porco, o javali resultou no javaporco, outra praga que afeta o meio ambiente.
No caso das grandes cidades ou locais próximos a rodovias, a interferência na rotina dos moradores e atropelamentos somam-se à lista de impactos.
Registros no Brasil
O primeiro registro oficial de um chital circulando livremente é de 2009, no Parque Estadual do Espinilho, no Rio Grande do Sul.
Em Santa Catarina, a primeira vez em que se registrou o aparecimento da espécie foi em 2019, em São José do Cedros, no oeste do estado.
No mesmo ano, um indivíduo foi avistado em São Joaquim, no Rio Grande do Sul, e outro no extremo-sul do estado. Em outras ocasiões, em áreas urbanas e praias.
O Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, também já recebeu a visita do invasor. E, em janeiro deste ano, outro Axis (macho) foi registrado, desta vez por um fotógrafo amador em uma fazenda em Içara, no sul de Santa Catarina.
Dias depois mais um caso em São Joaquim, onde um cervo Axis passeava no centro da cidade, e logo foi capturado.
Em junho, por meio de portaria , o Rio Grande do Sul liberou a caça do cervo chital para controle da população da espécie, como contamos aqui. Será esta uma saída também para Santa Catarina?
Como denunciar
Se você encontrar um cervo ou qualquer outro animal silvestre andando livremente em qualquer local que possa causar transtornos ou colocar sua vida e a de seres humanos em risco, entre em contato com os Bombeiros pelo número 193 ou com a Polícia Ambiental de sua cidade, pelo 190.
Mas, se você mora em Jaraguá do Sul, SC, ligue para a Fujama – Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente: (47) 3273-8008, de 2ª a 6ª, das 7h30 às 17 horas.
Agora, assista ao comentário do biólogo Christian Raboch:
Foto (destaque): T. R. Shankar Raman/Wikimedia Commons