Os sapos-arlequim são encontrados da Costa Rica até a Bolívia, do Equador até a Guiana Francesa e também, no Brasil, na região amazônica. Por causa de suas cores vibrantes e variadas – laranja, verde, amarelo, vermelho, roxo e até rosa, como deste da imagem acima, eles são considerados as “joias das regiões neotropicais”. No Panamá, inclusive, um sapo-arlequim-dourado é o símbolo nacional do país.
Todavia, esses anfíbios, que compõem o gênero Atelopus, estão cada vez mais ameaçados de extinção. Estima-se que até 90% das 99 espécies de sapos-arlequim descritas pela ciência correm o risco de desaparecer da natureza. Cerca de 40% delas já não são mais encontradas em seus habitats de origem. Pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), quatro espécies de sapo-arlequim já são tidas como extintas na vida selvagem.
Entre as principais causas para a queda dessas populações está o fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd), que causa uma doença letal, a quitridiomicose. Além disso, esses animais sofrem ainda com outras ameaças, como a perda de habitat, a crise climática, o tráfico de animais silvestres e a introdução de espécies invasoras, como a truta-arco-íris, que ataca os girinos de sapos-arlequim (leia mais aqui).
Mas para proteger estas espécies tão simbólicas das Américas Central e do Sul, mais de 40 organizações de 13 países se uniram num projeto inédito e pioneiro para reforçar esforços até então feitos separadamente. A Iniciativa de Sobrevivência Atelopus (ASI) tem um plano ambicioso: salvar os sapos-arlequim da extinção em toda a região ao longo dos próximos 20 anos (2021-2041). A ideia é traçar uma estratégia conjunta, compartilhando experiência em pesquisas e estudos das últimas décadas, mas que “pode ser adaptada e implementada localmente, de acordo com as necessidades, oportunidades e realidades de cada país”.
“Como um grupo incrivelmente diversificado de anfíbios que enfrentam uma série de ameaças, os sapos-arlequim precisam de soluções inovadoras propostas por um grupo diversificado de indivíduos e organizações com diferentes conhecimentos e capacidades”, afirma Lina Valencia, fundadora da ASI, co-presidenta da Força Tarefa Atelopus do Grupo de Especialistas em Anfíbios da IUCN e coordenadora de países andinos da ONG norte-americana Re:wild.
Uma das principais características dos Atelopus são as cores vibrantes
A iniciativa internacional inclui ainda a participação de governos, comunidades locais e povos indígenas.
“Proteger e recuperar sapos-arlequim e seus habitats também beneficiará as espécies que compartilham os ecossistemas em que vivem e que fornecem água para dezenas de milhões de pessoas e, finalmente, toda a vida na Terra. E esperamos que a ASI seja um modelo bem-sucedido que os conservacionistas possam repetir para outros grupos de espécies ameaçadas”, ressalta Lina.
Espécies encontradas na América do Sul
Curiosidade sobre os sapos-arlequim
- As espécies podem ser encontrados desde florestas ao nível do mar até ecossistemas de grande altitude, como os páramos da linha de neve nos Andes (4.500 metros);
- Eles são amantes apaixonados: em belos riachos tropicais, alguns sapos-arlequim podem passar semanas em amplexo (o abraço reprodutivo dos anfíbios), durante os quais os machos renunciam à comida e podem perder até 30% do peso corporal!;
- Eles abanam: sapos-arlequim podem acenar com os membros para se comunicar;
- Eles são difíceis de ver: sapos-arlequim são mestres em se esconder em seu habitat, mas se você tiver sorte, durante a época de reprodução, você verá riachos e arroios cobertos por eles;
- São vitais para o meio ambiente: a presença de sapos-arlequim é um claro indicador da saúde de seus habitats, principalmente da qualidade da água dos riachos que eles utilizam para se reproduzir.
Os sapos-arlequim têm significado cultural para alguns povos indígenas: no Equador, os Quechua os usam vivos ou “jambatos” para curar verrugas, sarna e dores de cabeça
*Texto (curiosidades) Iniciativa de Sobrevivência Atelopus e demais informações Re:Wild
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Fotos: divulgação/Jaime Culebras/Photo Wildlife Tours (abertura e sapo laranja)