Vitor Marigo cresceu num lugar privilegiado do Rio de Janeiro. O fotógrafo profissional, de 40 anos, sempre viveu no bairro de Laranjeiras, com vista para o Parque Nacional da Tijuca, dentro do qual está a Floresta da Tijuca, considerada a maior floresta urbana do mundo. O parque, que se estende por uma área de quase 40 km2, é um importante fragmento da Mata Atlântica brasileira.
“Eu tenho essa ligação com ele por ser carioca, que gosta e frequenta o parque. Desde pequeno eu ia para as Paineiras, as cachoeiras. Quando fiquei um pouco mais velho, adolescente, comecei a fazer muita trilha, explorar as montanhas do parque. E claro também, com o estímulo do meu pai, que foi fotógrafo de natureza, estreitou essa ligação”, conta Vitor.
O pai, a quem ele se refere, é Luiz Claudio Marigo, um dos maiores fotógrafos de natureza do Brasil, que morreu, prematuramente, aos 63 anos, em 2014.
O filho herdou o talento e a paixão do pai pela fotografia e trilhou a mesma carreira. Suas imagens já foram publicadas em veículos renomados como a National Geographic, BBC e Lonely Planet. Seu trabalho foi premiado internacionalmente e o brasileiro expôs suas fotos em espaços culturais no Brasil e na Espanha.
Agora, em um novo capítulo de sua trajetória, ele realiza um grande sonho: lança no sábado, 09/11, seu primeiro livro, Parque Nacional da Tijuca. A publicação, da Editora Luminatti, tem 216 páginas e 319 fotografias, que retratam não apenas as paisagens naturais e a diversidade da fauna e flora do parque, mas também mostra seus visitantes e a importância dessa área verde para os cariocas.
Durante os últimos oito anos, o fotógrafo recebeu do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) acesso exclusivo para fotografar em algumas áreas do parque e com isso, conseguiu reunir o maior acervo de imagens inéditas desse que é um dos principais cartões-postais do Rio.
O lançamento do livro, aberto ao público, acontecerá no Parque Natural Municipal da Catacumba, na Lagoa, a partir das 10h30. Simultaneamente será inaugurada uma exposição no local com algumas das fotos contidas na publicação.
Em entrevista ao Conexão Planeta, Vitor contou mais sobre a realização desse sonho, a influência do pai em seu trabalho e a expectativa com o lançamento de seu primeiro livro.
Como nasceu a ideia para o livro?
Eu fotografava há um tempo e já tinha participado de alguns livros, através de agências e editoras, mas nunca tive um projeto meu. Então lembrei de algo que meu pai sempre falava: que a gente precisa fazer as coisas com profundidade e dedicação porque, para ter um material bom, com qualidade para se publicar um livro, é necessário ter muito poder de edição, ou seja, filtrar, filtrar e sobrar só o que é realmente bom.
Pensei então em unir o útil ao agradável; começar com o Parque Nacional da Tijuca, como meu primeiro projeto, porque além de ser o parque mais visitado do Brasil, ter a imagem do Cristo Redentor associada a ele e cerca de 13 milhões que moram em seu entorno, está a dez minutos da minha casa.
O trabalho de edição do livro foi muito trabalhoso?
Não, foi um processo gostoso, mas um pouco doloroso algumas vezes. Parecia que eu estava cortando minha própria carne. Envolveu um certo desapego quando eu chegava à conclusão que adorava uma foto, mas ela não iria entrar porque outra que mostra a mesma coisa ou era melhor ou já tinha sido escolhida. Eu tentei escolher o melhor do melhor. São mais de 50 mil fotos do parque que eu tenho, e estão entrando 319, então só de pensar nesse número já dá pra imaginar o quanto ficou de fora.
Quais são as fotos mais especiais para você?
Tem muitas, mas duas que considero bastante especiais. E o engraçado é que uma foi a mais desconfortável de fazer e a outra a mais confortável. A primeira, que envolveu mais ralação, que eu adoro, foi uma foto de escalada na face sul do Morro do Corcovado, aquele paredão completamente vertical, virado para a Lagoa [Rodrigo de Freitas]. Ali tem os únicos Big Walls do Rio de Janeiro. Assim é como se chama uma trilha de escalada que é longa e difícil demais para ser feita em um dia, por isso é preciso dormir na montanha.
Por esta razão, essas fotos deram muito trabalho! Eu fiz quatro trabalhos de inspeção nessa parede, me pendurando lá e escolhendo o melhor lugar, e depois, no dia mesmo, na quinta ida, passamos a noite lá, com nascer e pôr do sol, nuvens…
E outra foto que ficou muito legal, mas me deu pouco trabalho, é uma com um raio, caindo sobre o Cristo Redentor. É uma imagem rara. Mas eu fiz ela com um tripé, colocado na varanda do meu apartamento, que tem uma vista para o Cristo. Fiquei sentado no computador, fazendo outras coisas, ouvindo música, tomando um vinho, e a câmera ficou lá pescando fotos de 30 segundos, uma atrás da outra. Eu sabia que havia raios nessa noite e consegui esse registro.
O que as pessoas vão ver no livro que talvez não conheçam ou não tenham ideia que exista no Parque Nacional da Tijuca?
Acho que as pessoas vão descobrir que o Parque Nacional da Tijuca é muito mais do que o Cristo Redentor ou a Vista Chinesa ou as Paineiras. O parque é incrível, tem quatro setores, com dezenas de pontos de visitação e coisas interessantes em todos eles.
Também não é um parque só para o atleta – a pessoa que anda de bicicleta, escala ou pula de asa delta -, ele tem atração para todo mundo. Tem foto no livro de casal com a mulher grávida, de idoso, de trilha adaptada para cadeirante, deficiente visual. Meu objetivo era mostrar isso também, que o parque é muito inclusivo, que literalmente qualquer um pode aproveitar, ter contato com a natureza e curtir.
Acredito que mesmo os cariocas que mais conhecem o parque ficarão surpresos, pois não sabem quantas atrações ele oferece. São mais de 70 lugares documentados no livro e esses são apenas os que aparecem nele.
O trabalho do teu pai te influenciou? Você enxerga um pouco do legado dele nas tuas fotos?
O meu pai tem total influência no meu trabalho. Acho que a minha educação visual e fotográfica começou quando eu saí da barriga da minha mãe (risos). Tem fotos minhas, com nem um ano de idade, no colo da minha mãe ou dele, no Parque de Itatiaia e no Parque da Tijuca.
Meu pai sempre fazia muitos livros, exposições e projeções das fotos em casa, para amigos e fotógrafos, então sempre tivemos muito contato com as fotos dele. Ele sempre foi uma referência visual de qualidade, do que é um bom enquadramento, uma boa luz, uma boa fotografia.
Mas há uma coisa que diferencia um pouco os nossos trabalhos. O do meu pai mostra uma natureza mais focada em animais e vida selvagem, com pouca interferência do ser humano. Já o meu tem muito do ser humano na natureza. Eu coloco muito a gente como parte da natureza, então o livro tem bastante isso, o uso público, as pessoas andando de bicicleta, fazendo milhões de atividades dentro do parque.
Meu pai sempre dizia uma frase que eu acho muito legal – “a gente só cuida das coisas que conhece” -, e isso retrata como o conhecimento é uma arma importante na consciência ambiental e na criação de amor, carinho e cuidado pela nossa natureza. Eu acredito nisso também, mas muito através do contato de estar na natureza como a forma mais eficiente de criar esse sentimento.
O livro Parque Nacional da Tijuca estará à venda no lançamento, e em seguida, no site do Mercado Livre.
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Foto de abertura: Vitor Marigo