A imagem desoladora de um pescador indígena caminhando sozinho no leito esturricado do Rio Solimões, capturada durante a seca extrema que atingiu a Amazônia no ano passado, emocionou o júri e rendeu, ao fotógrafo brasileiro Lalo de Almeida, o prêmio da categoria Foto Única/América do Sul do World Press Photo, o prêmio mais prestigioso e cobiçado do jornalismo mundial.
“Esta foto trata de dois temas aos quais venho me dedicando nos últimos anos: Amazônia e mudanças climáticas”, conta Lalo à Folha de SP, jornal para o qual realizou este e os demais trabalhos premiados.
“A imagem foi realizada durante a seca extrema que atingiu a bacia amazônica em 2023 e mostra um pescador indígena caminhando pelo leito seco de um braço do rio Amazonas (ou Solimões, aqui no Brasil), em frente à comunidade tradicional de Porto Praia, próximo à Tefé, no Amazonas”.
O fotógrafo conhece bem a região e a comunidade indígena, onde esteve em outras ocasiões, por isso ficou chocado com o cenário que encontrou. “O trajeto sempre foi feito de barco. Desta vez, tivemos de caminhar até as comunidades por meio de uma trilha pelo leito seco”.
“Vi que a comunidade estava olhando para o vazio. O trabalho mostra o impacto da crise climática nas paisagens e nas populações, que com o rio seco, têm sua vida inviabilizada. Os ciclos estão se quebrando com as mudanças climáticas”, destaca.
Outros prêmios
Em 2017, Lalo ficou em segundo lugar na categoria Questões Contemporâneos com ensaio sobre o surto de zika na região nordeste do Brasil.
Quatro anos depois, a série de imagens captadas por ele durante os incêndios que devastaram o Pantanal, em 2020, também foi reconhecida pelo World Press Photo, na categoria Meio Ambiente (contamos aqui).
O destaque ficou para a foto do macaco bugio carbonizado, que se parece muito com um ser humano (abaixo), ocupou página inteira da versão impressa da Folha de SP e causou comoção no Brasil e no mundo.
Essa imagem é, realmente, um registro impressionante, e integra a exposição Água Pantanal Fogo, inaugurada em 7 de março no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, que vai até 12 de maio (contamos aqui). Com curadoria de Éder Chiodetto, reúne 80 imagens de Lalo de Almeida (fogo) e de Luciano Candisani (água) e é um alerta para os efeitos das mudanças climáticas na maior planície alagável do mundo.
Voltando aos prêmios, em 2022, Lalo venceu novamente o World Press Photo – na categoria Projetos de Longo Prazo – com a imagem abaixo, que integra a reportagem Distopia Amazônica, documento importante sobre a ocupação da Amazônia e seu impacto na floresta e nos habitantes.
As imagens foram publicadas pela Folha na série Amazônia sob Bolsonaro e a maior parte do trabalho foi realizada em parceria com os jornalistas Fabiano Maisonnave e Marcelo Leite, com financiamento das organizações Rainforest Foundation Norway e Climate Home News.
Outras imagens destes três ensaios podem ser vistas no site de Lalo de Almeida: Distopia Amazônica, Pantanal em Chamas e Zika no Nordeste.
O profissional
Radicado em São Paulo, Lalo de Almeida estudou fotografia no Instituto Europeo di Design, em Milão, Itália, e logo começou a trabalhar como fotojornalista para pequenas agências que cobriam notícias diárias. Ao retornar ao Brasil, ingressou no jornal Folha de São Paulo onde trabalhou (como contratado) por 30 anos.
A partir de 2010, Lalo deu início à produção de pequenos documentários em vídeo e narrativas multimídia criando uma série de projetos premiados internacionalmente, entre eles Um Mundo de Muros, A Batalha de Belo Monte e Crise Climática.
No ano seguinte, foi premiado como Fotógrafo Ibero-Americano do Ano pela POY Latam (Foto do Ano Latam). Em 2021, recebeu o prêmio Eugene Smith Grant In Humanistic Photography por Distopia Amazônica, que documenta o modelo predatório de ocupação da maior floresta tropical do planeta nos últimos 10 anos.
A seguir, para conhecer melhor o trabalho desenvolvido por Lalo de Almeida e suas reflexões a cerca da crise climática no Brasil, assista à ótima entrevista concedida à repórter Claudia Tavares do programa Repórter Eco, da TV Cultura:
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Fontes: Instagram de Lalo de Almeida, Conexão Planeta, Folha de SP, Repórter Eco