
Apesar de não parecer – dado o seu tamanho -, o peixe da foto acima é um kinguio (Carassius auratus), também chamado de peixe-japonês ou peixinho-dourado. Muito popular, ele é vendido em lojas para criadores do mundo inteiro. Em aquário, essa espécie originária da Ásia (China e Japão), mede entre 5 e 10 cm. Todavia, o “peixinho-dourado” na imagem que abre este texto, capturado no lago de Keller, na cidade de Burnsville, no estado americano do Minnesota, media mais de 30 cm.
“Por favor, não solte o seu peixinho-dourado de estimação em lagoas e lagos! Eles crescem mais do que você pensa e contribuem para a má qualidade da água, eliminando os sedimentos do fundo e arrancando as plantas”, alertaram as autoridades locais pelas redes sociais.
Segundo a prefeitura de Burnsville, grandes grupos de kinguios foram observados nos últimos anos no lago, provavelmente descartados lá por pessoas que tinham um aquário em casa e desistiram de criar os peixes.
Em 2019, outra cidade do Minnesota relatou a descoberta de peixinhos-dourados em um lago. Entretanto não foram apenas alguns indivíduos, mas milhares. De acordo com a Carver County Water Management Organization, entre 30 e 50 mil deles foram encontrados no Big Woods Lake, em Chaska.
“Como muitos animais de aquários, os peixes-dourados não são nativos de Minnesota. Quando encontrados em lagos e lagoas, eles representam uma ameaça à qualidade da água e à saúde ecológica geral. Esses peixes são resistentes e muito invasivos como seu parente próximo, a carpa comum. Ambos remexem os sedimentos do fundo do lago e arrancam as plantas enquanto se alimentam. Essa ação libera fósforo na água, o que aumenta as algas e diminui a transparência da água. O desenraizamento de plantas nativas remove o habitat para os peixes nativos que dependem delas, e os peixes-dourados competem com os nativos por alimento e abrigo. Eles podem se reproduzir rapidamente, viver até os 25 anos e sobrevivem às condições de baixo oxigênio no inverno. Uma vez estabelecido, nenhuma solução fácil existe para remover uma espécie invasora como o peixe-dourado”, explicam os especialistas.
Peixes-dourados encontrados no lago da cidade de Burnsville
O descarte de peixes de aquários em cursos d’água naturais também ocorre no Brasil. E é um grande problema por aqui. Mas o que fazer então com eles quando o criador não quer mais mantê-los?
“A opção ideal seria as próprias lojas receberem novamente esses peixes para serem revendidos, caso a pessoa não queira mais. Mas caso o peixe tenha ficado muito grande e a loja não se prontifique a aceitá-lo novamente, infelizmente, o melhor é sacrificá-lo do que jogar no ecossistema natural. Uma maneira menos dolorosa de fazer isso é colocá-lo no gelo ou até no freezer, que irá baixar lentamente o metabolismo dele”, explica o biólogo Jean Vitule, professor de Ecologia do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro do Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC).
Ao lado de outros pesquisadores brasileiros, Vitule é co-autor de diversos artigos internacionais sobre o problema causado pelo descarte de peixes domesticados, aqueles mantidos em aquários, e de espécies exóticas, em rios e lagos. Em um deles, o grupo alerta como sobre as vendas informais de peixes de aquário não nativos de grande porte (conhecidos como tankbusters) estão aumentando entre os aquaristas do país (leia mais aqui).
Um peixinho-dourado de aquário: poucos imaginam que ele pode crescer tanto com o passar dos anos
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Espécie exótica, endêmica ou invasora? Se você não souber a diferença, a gente explica!
Fotos: divulgação City of Burnsville (peixes grandes) e pixabay/domínio público (última)
Os peixes das das primeiras fotos são Carassius gibelio.
Benito,
Vários biólogos viram as fotos e confirmaram ser um Carassius auratus. Além do mais, o gibelio é cinza.
Abraço,
Suzana
Exatamente, Peixinho dourado
Susana vc é uma Sereia dourada Vai contaminar os coracoes dos seus leitores.Amei sua trajetoria profissional.O mundo precisa de gente com vc.
bjos
Olá!
Obrigada pela mensagem tão carinhosa! Adorei!
Beijo,
Suzana
Sacrificar? que conselho mais insensível ! Engraçado que se tratasse de cachorro ninguém falaria em sacrifício. Quem não tem condições não crie, e se o peixe não puder mais ser acolhido pela loja, aguente as consequencias das próprias escolhas criando até o fim. Simples assim. Seja o cachorro ou o peixe, no final todos são seres vivos, vamos parar de menosprezar outras vidas
Daria pra pescar e comer esses “peixões-dourados” que estão na natureza?😁
Também queria saber se dá um frito?
Deveria então ser proibida a importação do bichinho, pq as pessoas são cretinas, e acham que os animais são descartáveis como sapato velho,e depois ficam nas ruas ou nos lagos ,e a solução é sacrfica-los??!! Preguiça desse povo😒