Em 2020 o Pantanal sofreu uma das maiores tragédias de sua história. Incêndios florestais devastaram quase 30% da vegetação do bioma. Estima-se que as chamas tenham matado 17 milhões de animais. Outros muitos, como a onça-pintada Amanaci, que se tornou um dos símbolos da catástrofe, vítima do fogo, jamais poderão voltar à natureza e precisarão passar o resto de suas vidas em cativeiro. O documentaria brasileiro Lawrence Wahba esteve lá na época e registrou com sua câmera o desastre, transformado no filme “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas”.
Apesar do surto da pandemia, Wahba ignorou os riscos e se juntou ao grupo de brigadistas e voluntários que lutavam contra o fogo. Ele mesmo foi um dos idealizadores da iniciativa, já que pouco o governo fez para evitar e combater os incêndios, muitos, com origem criminosa.
“A ideia de criar a Brigada Alto Pantanal foi minha, mas o personagem central para a sua construção foi o Coronel Ângelo Rabelo, do Instituto Homem Pantaneiro. Empregamos ribeirinhos com experiência no combate ao fogo e que estavam sem trabalho em meio à pandemia. A brigada continua ativa e a gente tem muito orgulho porque, dois anos depois, esses ribeirinhos estão treinados, uniformizados e capacitados, com salário e carteira assinada. Quando tem incêndio eles fazem o combate; quando não tem, visitam comunidades, ajudam no manejo das roças e dão orientações sobre o uso do fogo”, conta o documentarista.
Com a ajuda de outros cinco cinegrafistas – Thamys Trindade, Diego Rinaldi, Mike Bueno, Ernane Junior e Cesar Leite, levou para as telas as imagens chocantes da devastação do Pantanal. O documentário estreou primeiro na plataforma da Globoplay, onde ainda está disponível, e agora está sendo exibido pela primeira vez internacionalmente, no Wildscreen Festival, em Bristol, na Inglaterra, o maior festival de cinema sobre sustentabilidade e meio ambiente do mundo.
Lá “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas” recebeu o Prêmio Mérito de Sustentabilidade, concorrendo com 700 produções de 38 países.
“Ainda estou em estado de choque. Em 1996, eu tinha 27 anos, era um jovem documentarista em começo de carreira e fui ao Wildscreen. Vi vários filmes na tela grande, e pensei: ‘Um dia vou ter um filme meu exibido aqui’… Sempre achei que a linguagem do Jaguaretê-Avá não casava com o perfil da mostra. Sinceramente eu não imaginava um prêmio desses. Ao mesmo tempo em que essa é a realização de um sonho, é também a lembrança de um pesadelo, porque eu gostaria mesmo é de ver um filme meu com as belezas do Pantanal na tela grande do festival, e não saber que milhões de animais morreram. Esse é o filme que eu não gostaria de ter feito. Perto do que significaram os incêndios, esse prêmio não vale nada”, lamenta.
Imagem feita por Wahba em 2020
O nome “Jaguareté-Avá” é uma referência a uma história da mitologia guarani, sobre uma criatura meio homem, meio onça.
Aos 53 anos, Lawrence Wahba, 53 anos, é também apresentador de TV, fotógrafo, mergulhador e autor. Vencedor do Emmy, seus documentários, filmados em todos os continentes e oceanos, foram exibidos em 160 países, em canais como NatGeo, Smithsonian, Discovery, entre outros. Em 2017, lançou nos cinemas Todas as Manhãs do Mundo, seu primeiro documentário.
Fotos: divulgação