
“É terrivelmente assustador. Nunca vimos nada assim … Estamos perdendo provavelmente centenas de milhares, senão milhões, de aves migratórias“, lamentou Martha Desmond, professora do Departamento de Pesca, Vida Selvagem e Ecologia da Conservação da Universidade Estadual do Novo México, nos Estados Unidos.
Nas últimas semanas, milhares de pássaros começaram a ser encontrados mortos, no chão, não apenas no Novo México, ao sul do país, mas também em estados vizinhos, como Colorado, Texas e Arizona.
Segundo os biólogos que estão tentando entender a causa da mortalidade em massa, as aves achadas sem vida são, na grande maioria, espécies como andorinhas, pica-paus e mariquitas. A maioria delas passa pelos Estados Unidos em sua rota migratória.
“As aves parecem estar em condições relativamente boas, exceto pelo fato de estarem extremamente magras. Eles não têm reservas de gordura e quase nenhuma massa muscular. Quase como se estivessem voando até que simplesmente não pudessem mais”, contou a bióloga Allison Salas, do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos.
“Temos muito poucos dados ainda, mas suspeitamos que os incêndios na costa oeste, em combinação com a frente fria local que experimentamos na semana passada, alteraram os padrões de migração de muitos pássaros. Além disso, há pouca comida e água disponíveis aqui no deserto de Chihuahuan”, revelou a especialista.
Uma das possibilidades levantadas é que a fumaça e o fogo dos incêndios fizeram com que os pássaros buscassem uma nova rota migratória e se dirigissem para a região de Chihuahuan, onde não encontraram alimento nem água, ou mesmo, que a fuligem tenha afetado o pulmão dos animais.
Além disso, a crise climática também pode ter contribuído para a mortandade. Com o clima extremamente seco, há menos quantidade de insetos, principal fonte da dieta dessas aves, afirmam especialistas.

Uma das milhares de aves encontradas sem vida
Essas espécies percorrem um longo caminho em sua viagem de migração. Começam a jornada em regiões do Alaska e Canadá, percorrem todo o território americano, até chegarem ao seu destino final, a América Central ou do Sul. Ao longo do caminho, elas precisam fazer diversas paradas para descansar e se alimentar.
“Várias dessas espécies já estão em risco”, alerta Martha Desmond. “Elas apresentam um grande declínio populacional e, então, ter um evento trágico como este é devastador”.
Os pesquisadores esclarecem que espécies locais desses estados, não migratórias, não foram afetadas.
Um artigo científico divulgado na revista Science, no final do ano passado, revelou que 2,9 milhões de aves desapareceram dos Estados Unidos e do Canadá nos últimos 50 anos.
*Com informações adicionais dos jornais Las Cruces e The Guardian
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Fotos: divulgação New Mexico State University