Guirigó. Este é o nome desse belíssimo macho de onça-pintada de pelagem negra e olhos amarelos. Popularmente chamados de onças-pretas, esses indivíduos raros na natureza apresentam uma variação melânica – possuem mais melanina, o que dá à pelagem a tonalidade escura.
E essa onça-melânica em questão é a primeira que foi capturada, brevemente, pela equipe do Onçafari em mais de uma década de trabalho da instituição em prol da conservação da espécie no Brasil, a Phantera onca.
“É com imensa alegria que compartilhamos com vocês essa notícia que emocionou todos os membros da nossa equipe! O animal foi capturado para fins científicos no Cerrado, em nossa base na Pousada Trijunção, na divisa entre os estados de Minas Gerais e Bahia. É um macho de lindos olhos amarelos, que recebeu o nome de Guirigó em homenagem a um dos personagens do famoso romance “Grande Sertão: Veredas”, do poeta mineiro João Guimarães Rosa”, escreveu o Onçafari em suas redes sociais.
Durante a captura do animal, quando foi colocado um rádio-colar com GPS nele, os pesquisadores conseguiram descobrir que o macho tem uma idade estimada de 12 anos e pesa 81 kg, além de realizarem outros exames enquanto ele estava sedado, como a verificação dos sinais vitais, coleta de sangue, saliva, pelos e presença de ectoparasitas.
O projeto de monitoramento do Onçafari nessa região, inicialmente de lobos-guarás e mais tarde, de onças, começou em 2018. Foi através de armadilhas fotográficas que se flagrou, na época, pela primeira-vez, uma filhote melânica.
Onças-pretas são bastante raras na natureza
(Foto: Edu Fragoso)
Através do colar GPS, que deve funcionar durante um ano e meio a dois e depois se abre automaticamente, os pesquisadores querem descobrir se existe algum comportamento diferente entre onças-melânicas e onças-pintadas e se a pelagem preta interfere de alguma maneira na vida e movimentação desses indivíduos.
Essa comparação também ficará mais fácil de ser feita porque um outro macho, batizado de Riobaldo, que tem praticamente a mesma idade do que Guirigó, recebeu o colar e passará a ser acompanhado remotamente pelo Onçafari na mesma área.
“A captura de Guirigó é muito significativa para nós, pois faz parte de um projeto científico que tem como um dos objetivos gerais conhecer mais sobre a ecologia das onças-pintadas na região da Pousada Trijunção e do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Nosso interesse é ainda maior em desenvolver pesquisas e aumentar o conhecimento científico sobre as onças-pretas, que estão presentes nessa população de onças-pintadas e são raramente avistadas na natureza”, dizem os pesquisadores.
Através de certas características físicas os cientistas conseguem estimar a idade do animal
(Foto: Maria Julia Sternberg)
Cerrado tem declínio na população da onça-pintada
A vegetação do Cerrado não é tão fechada como a de biomas como a Mata Atlântica e a Amazônia e animais como onças-pintadas, ainda mais como as melânicas, se tornam alvos mais fáceis para caçadores.
Além disso, a expansão agropecuária tem colocado uma pressão gigantesca sobre a fauna e a flora do Cerrado. Estima-se que nos últimos 25 anos, a população desses felinos sofreu um declínio de 50% nesse bioma.
“Se a devastação continuar nesse ritmo, em 15 anos as onças do Cerrado podem estar à beira da extinção”, alerta o Onçafari.
Guirigó, após a colocação do colar e ainda sob o efeito da anestesia
(Foto: Edu Fragoso)
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Foto de abertura: Edu Fragoso/Onçafari