O Rio Grande do Sul tem se revelado como um dos maiores sítios arqueológicos de fósseis de animais do mundo. A mais nova descoberta anunciada por paleontólogos da região é um anfíbio gigante, que poderia chegar a até 1,5 metro, e teria vivido há aproximadamente 250 milhões de anos, no início do período Triássico, antes mesmo dos primeiros dinossauros existirem.
O fóssil do crânio desse animal, que se assemelha a um crocodilo, foi encontrado em uma fazenda na área rural do município de Rosário do Sul, no interior do estado, por uma equipe do Departamento de Paleontologia da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).
Batizado de Kwatisuchus rosai, o nome científico do anfíbio faz referência ao termo em tupi, kwati, focinho comprido e rosai homenageia o paleontólogo Átila Stock Da-Rosa, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
“O Kwatisuchus era um sobrevivente. Viveu em um ambiente devastado pela maior extinção em massa da história do planeta”, explica o paleontólogo Felipe Pinheiro, que coordenou a pesquisa. “Já que eram animais adaptados a condições de alto estresse ambiental, os anfíbios temnospôndilos acabaram se tornando abundantes em todo mundo”.
Ainda segundo o pesquisador, os temnospôndilos, grupo ao qual pertence o Kwatisuchus, eram carnívoros e viviam em sua maioria em ecossistemas aquáticos, todavia algumas espécies eram observadas também em ambientes terrestres.
“Certamente o achado mais emocionante que já participei. Estávamos encerrando as buscas no sítio após encontrar poucos fragmentos ao longo do dia. Foi quando notei o que parecia ser um pedaço de osso mais alongado, e apenas no momento de sua coleta é que percebemos que se tratava de um pedaço do crânio em perfeitas condições! E já, ali mesmo, sabíamos que se tratava de algo fantástico e completamente novo!”, revela Voltaire Paes Neto, pesquisador envolvido na descoberta, graças a uma parceria entre a Unipampa e a Universidade de Harvard.
Uma curiosidade encontrada pelos paleontólogos é que, após a análise do novo anfíbio gaúcho, descobriu-se que seus parentes mais próximos estão na Rússia.
“Naquele momento, os continentes estavam unidos em um supercontinente chamado Pangeia e a distância entre o Brasil e a Rússia era menor. Ainda assim, existiam barreiras. É incrível encontrar esse e outros animais que provavelmente conseguiram ultrapassar esses obstáculos”, destaca a ecóloga e paleontóloga Arielli Fabrício Machado.
Crânio do anfíbio gigante encontrado pelos paleontólogos
(Foto: Felipe Pinheiro)
*Com informações e entrevistas contidas no texto divulgado pela Unipampa
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Ilustração de abertura: Márcio Castro