
Em agosto do ano passado, após cinco meses, Rosa Luzia Lunardi, de 85 anos, recebeu novamente um abraço, da cuidadora Adriana Souza. Assim como outros milhões de brasileiros, a idosa, moradora do lar Viva Bem, em São Paulo, estava isolada, tentando se proteger da Covid-19.
Para poder oferecer um pouco de carinho e conforto a essas pessoas tão vulneráveis, a casa de idosos inventou a “Cortina do Abraço”, um aparato de plástico que permitia o contato físico, sem o risco da contaminação pelo novo coronavírus.
A imagem emocionante desse primeiro abraço depois de tantos meses foi registrada pelo fotógrafo dinamarquês Mads Nissen e acaba de ganhar o prêmio principal do World Press Photo 2021, anunciado hoje, na Holanda.
O concurso é considerado um dos maiores prêmios, se não o mais importante, do fotojornalismo mundial, ao reconhecer anualmente as melhores imagens registradas por esses profissionais sobre temas atuais em nossas sociedades.
“O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, rejeitou alegações sobre a gravidade da pandemia e o perigo representado pelo vírus, minou as medidas de quarentena adotadas em nível estadual e incentivou os brasileiros a continuarem trabalhando para manter a economia à tona. O Brasil encerrou 2020 com um dos piores recordes mundiais no tratamento do vírus, com cerca de 7,7 milhões de casos notificados e 195 mil mortes”, diz o texto da premiação.
Neste momento, o Brasil já tem mais de 360 mil mortos pela Covid-19 e o número de infectados passa de 13 milhões.
“Para mim, esta é uma história de esperança e amor nos momentos mais difíceis. Quando soube da crise que estava se desenrolando no Brasil e da má liderança do presidente Bolsonaro, que desde o início negligenciava esse vírus, que o chamou de ‘gripezinha’, realmente senti vontade de fazer algo a respeito”, afirmou o fotógrafo vencedor.
Mads Nissen já teve suas fotos divulgadas em publicações como Time, Newsweek, CNN, National Geographic, The Guardian, Stern e Der Spiegel. Em 2018, pela terceira vez, ele foi eleito o “Fotógrafo do Ano”, na Dinamarca. O profissional tem três livros publicados, entre eles, um chamado “Amazonas”, com 132 imagens em preto e branco que mostram a cenas da vida nesse estado brasileiro.
Um outro destaque do World Press Photo 2021 foi o fotógrafo brasileiro Lalo de Almeida, que tirou primeiro lugar na categoria “Meio Ambiente”, com imagens da tragédia dos incêndios no Pantanal.
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Foto: divulgação World Press Photo