Há poucos meses, quando Beryl – uma tempestade de categoria 5 e o primeiro furacão já registrado no mês de junho no Atlântico – passou pelo Caribe, ele causou muita destruição pelas ilhas da região, entre elas, Carriacou e Petite Martinique, no Arquipélago de Granadinas, conhecidas pelas suas belezas naturais.
Parecia até ironia, mas em 2023 o artista e mergulhador britânico Jason deCaires Taylor tinha começado a instalação de esculturas na costa de Hillsborough, em Carriacou, no museu subaquático batizado de A World Adrift – Um Mundo à Deriva, na tradução para o português. As obras chamavam a atenção justamente sobre a fragilidade de ilhas diante dos extremos climáticos. “Tragicamente, a instalação agora se tornou um testemunho vivo desses temas, à medida que os efeitos das mudanças climáticas se desenrolavam em tempo real, no meio do projeto”, diz Taylor.
Os chamados Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) são alguns dos lugares do planeta mais vulneráveis aos efeitos da crise climática, como por exemplo, o aumento do nível do mar, o aquecimento dos oceanos e a erosão costeira.
Com o atraso provocado pela passagem do Bery, A World Drift será inaugurado daqui a poucos dias, em outubro. A 4 metros de profundidade, mergulhadores e snorkelers poderão ver de perto as 30 impressionantes esculturas de botes, inspirados nos desenhos de frágeis embarcações de origami. Todos eles são guiados por crianças, simbolizando a travessia pelas águas incertas do futuro.
“Essas jovens figuras, retratadas como refugiados climáticos, não são apenas lembretes pungentes dos riscos geracionais das mudanças climáticas, mas também personificam resiliência, esperança e defesa”, revela o artista.
Assim como em outras obras de Taylor, as esculturas foram são produzidas com matéria-prima ecológica, que tem pH neutro. Elas têm como função se tornar recifes de coral artificiais.
Após serem colocadas no fundo do mar, as esculturas recebem extratos de corais vivos, técnica que estimula o crescimento dos mesmos, criando assim novos parques marinhos.
Jason deCaires Taylor faz parte de um grupo de artistas que abraça o movimento da “eco-arte“, que trabalham em prol da conservação ao mesmo tempo em que levam arte ao mundo natural. Mergulhador profissional, ele passou a infância explorando corais na Malásia. Sua formação em escultura e cerâmica, veio do London Institute of Arts. Suas obras são sempre em tamanho real e geralmente feitas com moldes de pessoas de verdade, habitantes do lugar onde a instalação artística será colocada (veja outros trabalhos dele nas reportagens citadas no LEIA MAIS ao final deste texto).
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Fotos: divulgação Jason deCaires Taylor