*Texto atualizado em 03/11/21
Após meses de pressão e sobretudo, depois da manifestação das atletas da Noruega, conforme descrito na reportagem abaixo, a Federação Internacional de Handebol anunciou que as jogadoras não serão mais obrigadas a vestir biquínis durante as competições oficiais. A nova regra foi publicada no começo de outubro e entrará em vigor em janeiro de 2022 e determina que podem ser usados shorts, justos.
Segue texto original da matéria:
Com o começo dos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, todo assunto ligado a esportes ganha maior repercussão. E a notícia sobre a qual escrevo agora é uma delas. Aconteceu há poucos dias. A Federação Europeia de Handebol de Praia multou em 1.500 euros, pouco mais de 9 mil reais, o time feminino da Noruega por se vestir de maneira “imprópria”. Acontece que na partida contra a Espanha, no último final de semana, na Bulgária, as jogadoras norueguesas usaram shorts no lugar de biquínis.
Segundo a nota oficial divulgada pela Federação Europeia de Handebol, “o uso de shorts não está de acordo com os regulamentos de Uniforme do Atleta definidos nas Regras de Jogo do Handebol de Praia”. De acordo com a norma atual, as jogadoras devem vestir biquínis na parte debaixo que tenham uma largura máxima de 10 centímetros, “justos” e com um “corte em um ângulo ascendente em direção ao topo da perna”. No caso dos homens, a regra é shorts não muito largo e 10 centímetros acima da rótula (parte anterior ao joelho).
“Não entendo porque não podemos jogar de shorts, ainda mais hoje em dia quando tanto se discute sobre a exploração do corpo”, disse Martine Welfler, uma das jogadoras norueguesas.
A gerente da equipe Siv Øye Carlsen revelou que antes da partida (disputa pela medalha de bronze no campeonato europeu), o time optou por informar a federação que as atletas jogariam com os shorts. Ao informar com antecedência, queria ter um diálogo aberto e honesto sobre o caso.
A Federação Europeia de Handball afirmou ter entrado em contato com a Federação Internacional de Handebol e informado sobre sua decisão. A possível mudança do uniforme já teria sido discutida antes, a pedido dos representantes noruegueses, em abril, e deve voltar à mesa de debate em agosto.
Em uma carta envidada em 2006 à Federação Internacional de Handebol, a Noruega já havia ressaltado que a exigência de as mulheres serem obrigadas a usar o biquíni era “insensível às normas culturais de alguns países e poderia ser constrangedor para aquelas que não queriam ter seus corpos expostos”.
A imposição da multa gerou muitas críticas. A Ministra dos Esportes e da Cultura da Noruega, Abid Raja, disse em seu Twitter que a decisão era “completamente ridícula”.
Ridículo é o mínimo que se pode dizer sobre o assunto.
Na foto abaixo, os uniformes usados pelos atletas noruegueses e ao lado o que é determinado ao time feminino.
Homens de shorts e mulheres de biquínis: machismo, arbitrariedade ou exploração do corpo feminino?!
Time alemão e o movimento #ItsMyChoice
Quem decidiu também se posicionar contra os atuais uniformes impostos pelas federações às atletas mulheres foi a equipe de ginástica da Alemanha. Em algumas provas, as meninas optaram por vestir um collant longo, com legging cobrindo as pernas. A mudança faz parte de um movimento chamado por elas de #ItsMyChoice (#ÉMinhaEscolha, na tradução para o português). As ginastas já tinham se apresentado antes com o novo traje durante o Campeonato Europeu, em maio, na Suíça.
Em declaração oficial, a Federação Alemã de Ginástica afirmou que os uniformes são contra a “sexualização no esporte e que o objetivo é “se apresentar esteticamente – sem se sentir desconfortável”.
O time alemão em aquecimento nos Jogos Olímpicos de Tóquio: sem pernas de fora
Em seu perfil no Instagram, a ginasta alemã Sarah Voss comentou na época:
“Chamamos muita atenção com a nossa participação no Campeonato Europeu. Recebemos muito incentivo e também estamos satisfeitas com os inúmeros retornos positivos! Foi particularmente importante para nós dar o exemplo com a nossa aparência para encorajar outras mulheres e especialmente as atletas mais jovens a usar o que se sentirem mais confortáveis! Este pode ser o amado collant curto, mas também o terno longo. Nós, ginastas do Turn-Team Germany, reservamo-nos o direito de decidir, dependendo da situação, em que nos sentimos mais confortáveis no momento! É importante que possamos determinar como nos vestimos a qualquer momento. A nova possibilidade de escolha das roupas nos dará ainda mais forças no futuro”, escreveu.
Uniforme usado pela equipe da Alemanha
*Com informações adicionais do jornal The New York Times
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Texto atualizado em 26/07/21 para incluir informações sobre o uniforme da equipe de ginástica olímpica da Alemanha
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Fotos: divulgação Norwegian Handball Federation (abertura), reprodução Facebook Kim Bui e Instagram Sarah Voss