Atualizado em 11/2/2022
O texto abaixo, publicado em 6/2, relata a proposta da prefeitura para que a família do congolês Moïse Kabagambe assumisse os quiosques Biruta e Tropicália (onde o jovem foi morto).
No entanto, Rodrigo Mondego, o procurador da comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, que acompanha a família, contou ao jornalista Ancelmo Góis que ela vai desistir da concessão. “A família não quer mais aqueles quiosques depois que o dono disse que não sairia. Estão com medo”.
Os parentes temem pela sua segurança pois, logo depois que o crime se tornou público, foram procurados e intimidados por policiais. E não lhes foi oferecida qualquer proteção. Mas eles querem conversar com a prefeitura para dizer que aceitam outro quiosque na orla da cidade, que estava desativado, exceto aquele, onde o crime aconteceu.
O secretario da Fazenda e Planejamento do Rio, Pedro Paulo, declarou que a prefeitura ainda não foi oficialmente comunicada da decisão da família, “mas está inteiramente à disposição para ajudar no que for preciso e chegar à melhor solução. Não vemos nenhum impedimento para que eles fiquem em outro quiosque”.
Em nota, logo após o crime se tornar público, o prefeito Eduardo Paes declarou que a concessão dos quiosques tinha sido cancelada. Mas, em entrevista esta semana, Celso Carnaval declarou que não vai abrir mão do quiosque Biruta, onde está há 50 anos, e que sua concessão ainda está sendo analisada pela Justiça.
Resta saber se, depois da desistência da família, a proposta de memorial continua de pé.
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Texto publicado em 6/2/2022
Neste sábado, 5 de fevereiro, os participantes dos atos por justiça, contra o racismo e a xenofobia – que aconteceram durante todo o dia em diversas cidades brasileiras -, certamente estavam a caminho do ponto de encontro quando a prefeitura do Rio de Janeiro anunciou duas boas notícias.
Suspendeu os contratos de operação dos quiosques Biruta e Tropicália – para os quais Moïse Kabagambe trabalhava e onde foi espancado até a morte em 24 de janeiro, como contamos aqui – e ofereceu a gestão de um dos espaços à família do jovem congolês. Com mais um detalhe: a Orla Rio, concessionária que administra os quiosques da Barra da Tijuca, se comprometeu a não cobrar aluguel.
O secretário municipal de Fazenda, Pedro Paulo, ainda revelou que a intenção é transformar os dois quiosques num memorial em homenagem à Moïse e à cultura congolesa e africana – com comidas típicas, música e arte -, como forma de reparação à família do jovem e, também, para que a barbárie ali cometida nunca mais seja esquecida, nem promovida.
Vale lembrar que, na mesma praia, outros três homens foram encontrados mortos recentemente – também assassinados de maneira brutal – e os casos nunca foram investigados, como declarou a embaixada do Congo em carta às autoridades do Rio e de Brasília (como contamos no texto acima indicado).
Vida digna
Com a criação de um centro de referência da identidade e da cultura africana, a prefeitura diz que pretende promover a integração socioeconômica de refugiados africanos para reafirmar o compromisso da cidade em receber todos, de braços abertos, oferecendo-lhes oportunidades para uma vida digna.
O secretário ainda destacou que, as oportunidades de trabalho oferecidas pelos dois quiosques, deverão priorizar refugiados africanos residentes no Rio de Janeiro. E que a prefeitura e a Orla Rio – em parceria com Sesc/Senac – também vão criar programas de treinamento e capacitação para que esses imigrantes possam atuar nas áreas de alimentação e turismo.
Até quando será preciso alguém ser morto para que recebamos com com empatia e solidariedade as pessoas que fogem de seus países e escolhem o Brasil para viver?
Aqui, desqualificados no registro de sua documentação, os refugiados são impedidos de exercer suas reais habilidades. E os negros, preteridos por sua cor, são lembrados apenas para fazer trabalhos braçais.
Apesar do trabalho informal e duro que realizava como atendente dos quiosques Biruta e Tropicália – recebia até R$ 200/dia e, por vezes, dormia na praia para não gastar com transporte e chegar em casa com mais dinheiro –, Moïse era conhecido e invejado por sua alegria, desenvoltura e por se comunicar muito bem em francês, inglês e português (além de sua língua natal: lingala).
Nas ruas por Moïse, Durval, Marielle…

Logo que o assassinato de Moïse tornou-se público, a comunidade congolesa no Rio de Janeiro anunciou que organizaria – no sábado, a partir das 10h – um protesto em frente ao quiosque onde o jovem congolês foi morto, para pedir por justiça e gritar contra o racismo e a xenofobia que matam negros todos os dias no país.
O anúncio reverberou em São Paulo, Santos, Carapicuíba, Belo Horizonte, Salvador, Brasília Porto Alegre, Curitiba, que também também pediram justiça por Moïse e se estenderam até o final da tarde.
“O racismo no Brasil está sendo misturado com a xenofobia. Hoje o apartheid não existe mais, mas o racismo está vivo no Brasil e na sociedade brasileira. Pedimos justiça para Moïse! Nossa comunidade congolesa está indignada”, bradou Ma Joie, líder da comunidade congolesa, durante o ato no Rio.
Os manifestantes gritaram palavras de ordem, empunharam cartazes e gritaram por Moïse, mas também por Durval Teófilo Filho – assassinado em 2 de fevereiro por um sargento da Marinha, seu vizinho, que o ‘confundiu’ com bandido –, e de outros negros que tiveram suas vidas silenciadas brutalmente, em especial com o governo Bolsonaro.
E Manaus? Fortaleza? Belém? Goiânia? Cuiabá? Vitória? Florianópolis? Não se mobilizaram? Quem souber de algum movimento – mesmo que pequeno – em alguma dessas localidades, conta nos comentários pra gente?
Veja alguns momentos dos atos pelo Brasil, a seguir.







Fontes: G1, Mídia Ninja, Pretas e Pretos no Poder