Ontem, 8/8, reproduzimos o relato do Observatório do Clima sobre o cacique Raoni Metuktire, líder do povo Kayapó, que procurou por Lula no Hangar – Centro de Convenções de Belém, onde se realizava a Cúpula da Amazônia, mas não conseguiu chegar até ele. Ficou horas esperando, em meio a promessas dos funcionários do governo de que ele o receberia.
Devido à agenda corrida do presidente – Raoni chegou sem horário marcado, nem credencial, durante o almoço de Lula com os presidentes -, ele foi recebido por uma comitiva de ministros formada por Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Marina Silva (Meio Ambiente), Nísia Trindade (Saúde) e o Chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, num local improvisado: a copa onde funcionários do local fazem suas refeições.
A eles o cacique contou que gostaria de falar aos líderes presentes à cúpula (fechada aos governos dos oito países amazônicos) para, juntos protegerem a floresta. Na impossibilidade de encontrar o presidente, Raoni disse aos ministros que estava ali para cobrar medidas urgentes de proteção dos povos indígenas da Amazônia contra o garimpo, a extração de madeira ilegal, a grilagem de terras, entre outros crimes. E entregou-lhes uma carta endereçada a Lula com tais reivindicações.
“Recebemos, do cacique Raoni, o documento final com as demandas consolidadas durante o Chamado Raoni“, contou Sonia Guajajara em seu instagram (foto acima).
O ‘chamado’ aconteceu no final de julho na Aldeia Piaraçu, em São José do Xingu, Mato Grosso. Lula foi convidado por Raoni, mas não pode comparecer certamente devido a restrições de locomoção causadas por dores no quadril (ele será operado em outubro). A ministra dos povos indígenas o representou.
“A carta concentra uma série de posicionamentos dos povos indígenas, como a exigência de demarcação dos nossos territórios, a derrubada do chamado Marco Temporal e que o estado brasileiro assegure os nossos direitos”, acrescentou a ministra. “O documento será entregue ao presidente Lula”.
Cúpula, dialogos, marcha
Raoni está em Belém desde a semana passada com mais de 600 indígenas dos países da Pan-Amazônia que pretendiam participar dos Diálogos Amazônicos, organizados pelo governo, Como não foram convidados (exceto o cacique Kayapó), realizaram seu próprio encontro – Cúpula dos Povos Indígenas – para debater e alinhar reivindicações.
Também fez parte da programação dos indigenas uma Marcha dos Povos da Terra, realizada ontem, que reuniu centenas de indígenas, inclusive Raoni, e outros povos da floresta, passando pelas ruas de Belém até o centro de convenções onde foi realizada a Cúpula da Amazônia.
“Sem nós, não haverá Amazônia”
Além da carta à Lula escrita por indígenas brasileiros, outro documento foi entregue aos presidentes e representantes dos países amazônicos presentes em Belém: a Carta dos Povos Indígenas da Amazônia.
O documento destaca que, apesar dos povos indígenas representarem 5% da população mundial, segundo a ONU (no Brasil, são 0,8%, de acordo com dados divulgados esta semana pelo Censo 2022, do IBGE), eles são responsáveis preservação de mais de 80% da biodiversidade do planeta.
E fazem diversas reivindicações, entre elas:
– conservação de 80% da Amazônia (pelo menos) até 2025 para atingir o desmatamento zero até 2030;
– reconhecimento e demarcação de todas as terras indígenas da Bacia Amazônia até 2025;
– segurança e proteção aos usos e costumes dos povos indigenas da Amazônia, especialmente de mulheres, jovens, anciãs e anciões; e
– garantia de direitos a todos os povos da região amazônica.
“Sem nós, não haverá Amazônia; e, sem ela, o mundo que conhecemos não existirá mais, porque nós somos a Amazônia: sua terra e biodiversidade são o nosso corpo; seus rios correm em nossas veias. Nossos ancestrais não só a preservaram por milênios, como ajudaram a cultivá-la. Vivemos nela e por ela. E, ao longo dos séculos, temos dado nossas próprias vidas para protegê-la”, salientam eles em trecho da carta, que pode ser lida, na íntegra, no site da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).
Foto (destaque): Léo Otero/MPI
Fontes: Greenpeace Brasil, Coiab, Sonia Guajajara