
O ano de 2023 foi o mais quente da história nos oceanos – a alta na média de temperatura foi de 1,45ºC -, o que deve fazer de 2024 um ano ainda mais quente. O alerta é da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciencia e a Cultura que, hoje, divulgou relatório sobre o Estado do Oceano, que descreve o estado atual e futuro dos oceanos, abordando aspectos físicos, químicos, ecológicos, socioeconômicos e de governança, resultado das contribuições de mais de 100 pesquisadores de 28 países.
“Enquanto as temperaturas da atmosfera flutuam, o oceano está aquecendo de forma constante, como uma panela de água no forno”, salienta o novo documento, que reforça a análise dos cientistas dos Centros Nacionais de Informação Ambiental (NCEI) da NOAA (instituição ligada ao governo dos EUA, que faz medições há 174 anos), divulgada em janeiro deste ano, que apontou que, no ano passado, a cobertura de gelo marinho da Antártica caiu para nível recorde.
“A água mais quente se expande mais e colabora para o derretimento das camadas polares”, ressalta o relatório. Nas regiões do Mediterrâneo, do Atlântico Tropical e dos mares austrais (contorno da Antártida), o aumento da temperatura superou os 2ºC.

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Esse dado revela que o ritmo do aquecimento é duas vezes maior do que foi observado há 30 anos. E tem causado danos irreparáveis à vida marinha como a destruição de 35% de suas florestas, 30% de aumento da acidificação e 2% a menos de oxigênio, levando à criação de áreas mortas (como as que sofreram branqueamento dos corais) nos oceanos por todo o planeta.
O estudo ainda destaca que, no início deste ano, a agência climática europeia Copernicus concluiu que as temperaturas atmosféricas medidas em 2023 foram as mais altas desde a época pré-industrial, o que representa uma elevação média de 1,48ºC.
Muito próximo do limite de 1,5º C – estabelecido no Acordo de Paris, durante a COP21, em 2015 -, essa medição reforça o alerta da Unesco de que 2024 deve ser ainda mais quente.
Além do aquecimento mais rápido e de tantas sequelas, o estudo da Unesco também indica que as águas subiram 9 cm e vão continuar subindo.
Como não é possível controlar esse processo, é urgente fazer um novo planejamento para a ocupação humana na faixa litorânea como, também, nas margens de rios e lagos.
Década dos Oceanos
Com seu novo relatório, a Unesco tem, por objetivo, informar os responsáveis pelas decisões políticas sobre o estado do oceano e de estimular a investigação e as ações políticas no sentido de “o oceano que precisamos para o futuro que queremos”, contribuindo para a Agenda 2030 e, em particular, para o 14º Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS 14 – Vida na Água), bem como outros processos globais como a CQNUAC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima – COPs), a Convenção sobre a Diversidade Biológica e o Quadro ou Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres (objetivo: reduzir e prevenir novos riscos de desastres por meio da implementação de medidas económicas, estruturais, legais, sociais, de saúde, culturais, educacionais, ambientais, tecnológicas, políticas e institucionais integradas e inclusivas).
Estruturado em torno das sete Décadas das Nações Unidas da Ciência dos Oceanos para os Resultados do Desenvolvimento Sustentável, o documento fornece informações importantes sobre a concretização dos objetivos da Década dos Oceanos das Nações Unidas (2021 a 2030) e, a longo prazo, sobre o bem-estar dos oceanos.
Catástrofes no Brasil
Veja a catástrofe climática do Rio Grande do Sul! Já estamos vivendo o que diziam os cientistas do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, desde os anos 90 (o primeiro relatório data de 1990).

Foto: ESA/Fotos Públicas
Ronaldo Christofoletti, representante da Unesco no Brasil e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que as temperaturas mais altas provocam mais evaporação e, por consequência, a formação mais frequente de nuvens e precipitações mais constantes e mais fortes, além de influenciar o deslocamento das massas de ar pelos continentes. Ou seja, oceanos mais quentes provocam chuvas cada vez mais intensas.
“O oceano cobre 70% do planeta e é o principal responsável pela regulação do clima — logo, um oceano ‘febril’ contribuiu para uma série de catástrofes climáticas e chuvas intensas nos últimos anos”, explica o pesquisador ao citar as chuvas extremas de 2021, que atingiram o sul da Bahia; de 2022, em Petrópolis e Recife; de 2023, em Alagoas, Angra dos Reis (RJ) e litoral norte de São Paulo; e, agora, 2024, que alagaram 90% do estado do Rio Grande do Sul.
Plástico
A análise divulgada pela Unesco também apresenta o estado dos oceanos no que se refere à poluição provocada pelos plásticos.
Há entre 1,1 e 4,9 milhões de toneladas de plástico: no Atlântico e no Índico, o maior problema são as redes e outros materiais de pesca descartados; já, no Pacífico, são os utensílios e embalagens de uso único.

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Foto: Veronique Mocellin / © Australian Institute of Marine Science