A grande maioria da população do planeta conhece esse bicho apenas por imagens de livros, documentários ou filmes. Quem não se lembra da cena de Skyfall, quando o espião britânico James Bond, 007, vivido pelo ator Daniel Craig, cai dentro de uma arena com dragões-de-komodo?! Esse lagarto gigante, da família dos varanídeos (Varanus komodoensis) é encontrado em ilhas da Indonésia. O maior dos lagartos ainda vivo no mundo, pode atingir até 3 metros e pesar 90 kg. E por causa das mudanças climáticas, está um passo mais perto da extinção na vida selvagem.
O dragão-de-komodo acaba de passar da categoria “vulnerável” para “em perigo” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que avalia as condições de sobrevivência de milhares de animais e plantas.
Em perigo significa que uma espécie possui grande chance de entrar em extinção na natureza. O dragão-de-komodo vive somente em áreas do Parque Nacional de Komodo e próximas dali. Segundo especialistas, seu tamanho é resultado do chamado gigantismo insular. Ele não tem outros animais carnívoros para preencher o nicho ecológico nas ilhas onde vive e ainda, apresenta um baixo processo de metabolismo.
Todavia, apesar de ser uma criatura tão enigmática e nos lembrar tanto dos dinossauros, os dragões-de-komodo correm o risco de, no futuro, serem vistos só em zoológicos. O aumento da temperatura global, assim como o do nível dos oceanos, deve reduzir seu habitat natural em pelo menos 30% nos próximos 45 anos. E mesmo protegido pelas leis da Indonésia, embora a subpopulação no Parque Nacional de Komodo esteja atualmente estável e bem conservada, eles estão ameaçados pelo desmatamento na região das ilhas de Flores.
“Os dragões-de-komodo foram apresentados ao público britânico por Sir David Attenborough há apenas 60 anos, na série icônica da BBC “Zoo Quest for a Dragon”. A ideia de que esses animais pré-históricos deram um passo mais perto da extinção devido em parte à mudança climática é aterrorizante – e um outro toque de clarim para que a natureza seja colocada no centro de todas as decisões na véspera da COP26 em Glasgow”, alerta Andrew Terry, diretor de conservação da Zoological Society of London.
Um dragão-de-komodo num zoológico da Austrália
Agora o dragão-de-komodo se junta a outras 14.647 mil espécies de animais citadas como “em perigo de extinção” pela nova atualização da Lista Vermelha da IUCN, divulgada no último sábado, 04/09, durante o congresso da entidade, em Marselha, na França.
Em 2021, a organização monitorou as condições de 138.374 espécies. 902 já foram extintas e 8.404 estão muito próximas disso (veja lista completa mais abaixo).
Anualmente, a organização aumenta o número de espécies monitoradas. Em 2020, foram dez mil a menos, 128.918. Mas é fácil perceber o salto daquelas que se tornam mais ameaçadas. No ano passado, eram 35.765. Agora já são 38.543.
Há, felizmente, boas notícias. Casos de sucesso dos esforços de conservação de governos e organizações internacionais e locais que trabalham pela proteção de animais e ecossistemas. Como escrevi ontem aqui no site, quatro espécies de atum conseguiram aumentar suas populações e passaram a constar numa categoria mais baixa de ameaça à extinção.
Mas gostaríamos de ver mais exemplos como o do atum. E menos como o do dragão-de-komodo.
Lista Vermelha das Espécies em Extinção 2021
Número de espécies analisadas – 138.374
Número total de espécies ameaçadas – 38.543
Extintas – 902
Extintas na natureza – 80
Criticamente em perigo – 8.404
Em perigo – 14.647
Vulnerável – 15.492
Quase ameaçadas – 8.127
Pouco preocupantes – 71.148
Sem dados/informações suficientes – 19.404
Entenda as siglas da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas
– Extinto (EX): não existe mais nenhum indivíduo da espécie;
– Extinto na natureza ( EW): todos os indivíduos vivos da espécie encontram-se em cativeiro, não sendo possível verificá-los em seu habitat;
– Criticamente em perigo (CR): espécie apresenta chance extremamente elevada de entrar em extinção na natureza;
– Em perigo (EN): espécie possui grande chance de entrar em extinção na natureza;
– Vulnerável (Vulnerable – VU): espécie tem chance de entrar em extinção na natureza;
– Quase ameaçado (NT): espécie não está ameaçada, mas esforços devem ser realizados em prol de sua conservação;
– Pouco preocupante (LC): espécie estudada não possui grandes riscos de entrar em extinção na natureza no momento;
– Dados deficientes (DD): não existem dados suficientes que evidenciem o grau de conservação da espécie;
– Não avaliado (NE)
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Foto: divulgação IUCN/Paul Rien (abertura) e David Clode on Unsplash