A onda de calor extremo que afetou países do Hemisfério Norte nas últimas semanas, no que já se considera este julho, o mês mais quente da história da humanidade, causou mais uma tragédia ambiental no estado da Flórida, nos Estados Unidos. Por lá, a temperatura da água que atingiu inacreditáveis mais de 38oC, um possível recorde no planeta, provocou um branqueamento em massa de corais.
A região mais impactada foi a de Florida Keys, onde pesquisadores correm contra o tempo para tentar salvar aqueles que ainda não morreram. Eles os levam para laboratórios e lá serão cultivados, e posteriormente, devolvidos ao mar quando a situação se normalize.
“As altas temperaturas da água do oceano no sul da Flórida neste verão, que estão 4o a 5oC mais quentes do que o normal, têm sido excepcionalmente desafiadoras para os corais, levando a relatos generalizados de branqueamento”, declarou o FWC Fish and Wildlife Research Institute.
Branqueamento é um termo usado para descrever quando os corais expelem as algas coloridas que vivem em seus tecidos, fazendo com que pareçam completamente brancos.
“O branqueamento ocorre em resposta a temperaturas da água acima de 31oC e altos níveis de radiação ultravioleta. Embora os corais possam sobreviver a eventos de branqueamento se a temperatura da água retornar rapidamente aos níveis normais, as algas que eles liberam desempenham um papel crucial no fornecimento de alimentos. Sem essas algas simbióticas, eles podem morrer de fome ou esgotar severamente suas reservas de energia, tornando-os mais suscetíveis a doenças e potencialmente levando à sua mortalidade“, explicam os especialistas do Instituto de Pesquisa da Pesca e da Vida Selvagem da Flórida.
Num dos berçários instalados em Florida Keys, no período de poucos dias, os pesquisadores observaram o branqueamento de diversas espécies de corais, entre elas, algumas ameaçadas de extinção.
“Dada a gravidade do evento, a equipe do FWC decidiu transferir os corais saudáveis remanescentes para o Keys Marine Laboratory, que possui instalações para manter os corais em terra. Durante dois dias, a equipe do FWC transportou quase 900 colônias de corais chifre-de-veado, corais chifre-de-alce e corais rochosos de várias espécies. Esses corais permanecerão dentro do sistema de água do mar de última geração para se recuperar em águas mais frias até que as temperaturas melhorem ao longo do recife e possam ser transportados de volta para o berçário na água”, informou o instituto em suas redes sociais.
Colônias de corais no berçário antes e depois do branqueamento recente
(Foto: divulgação FWC Fish and Wildlife Research Institute)
Vale ressaltar que, apesar de já ser verão no Hemisfério Norte, em geral, agosto e setembro costumavam ser os meses mais quentes nessa região da Flórida.
A organização não-governamental, the Surfrider Foundation, que trabalha pela conservação dos oceanos, e está acompanhando o atual desastre ambiental na Flórida provocado pelo aquecimento global, usou suas redes sociais para mostrar o que tem registrado durante mergulhos nos últimos dias. As cenas são desoladoras, com áreas enormes de corais totalmente esbranquiçados.
“Pudemos ver perdas devastadoras e permanentes de corais, reduzindo bastante o pouco que resta dos efeitos contínuos de doenças, poluição e mudanças climáticas”, relatou a ONG.
A organização lembra ainda que não são apenas os corais que são afetados. “Peixes e outras espécies também são bastante impactados pelo calor extremo. Os peixes precisam de oxigênio na água para sobreviver. Mas as águas mais quentes retêm menos oxigênio, o que pode resultar em mortandade de peixes em grande escala”.
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Foto de abertura: divulgação FWC Fish and Wildlife Research Institute