A educação que recebemos sobre a Amazônia, quando estávamos na escola, e a que a geração atual recebe também, está repleta de números, como se a floresta fosse isso: números.
Falamos e aprendemos sobre seus 6,9 milhões de km2 divididos em nove países: 60% no Brasil, 24 milhões de pessoas, 9 Estados brasileiros, 2,500 espécies de árvores, maior bacia hidrográfica do mundo. Ouvimos falar das principais causas do desmatamento e que “é necessário desenvolver” a região, criamos uma imagem de Amazônia gigante e eterna, selvagem e com muitos bichos, ou exótica e com muitos índios – pelos quais muitas vezes se nutre um infeliz preconceito – e paramos por aí. Ou melhor (pior, quero dizer), não paramos: seguimos a vida toda falando de Amazônia – quando lembramos que ela existe – para repetir a mesma informação que aprendemos na escola e, depois, em tradicionais livros da literatura e no cinema também.
Historicamente, a maior floresta do mundo foi reduzida a números. Números sem vida e sem expressão. Números que são incapazes de expressar a sacralidade, a beleza, a tradição, a cultura, o gesto, o som, a umidade, a voz e a temperatura da floresta.
Estamos em um momento delicado da história. Cientistas apontam que a Amazônia, que demorou 55 milhões de anos para existir, pode desaparecer diante de nossos olhos pelos próximos míseros 40 anos. O desmatamento só aumenta. A taxa anual do desmate, conforme o satélite Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), comprova isso:
– em 2012, tivemos a menor taxa da história (4.571 km2), mas não deu para comemorar por muito tempo;
– em 2013, subiu para 5891 km2;
– em 2014, caiu pouco: para 5012 km2 e,
– em 2015, voltou a subir com tudo: 6207 km2.
Como diz o cientista Antonio Donato Nobre, não adianta “comemorar” a queda, apesar de ela ser válida, mas precisamos “evitar” a todo custo que qualquer outra árvore seja derrubada ou queimada na floresta. De queda em queda ou de aumento em aumento das taxas de desmatamento, fato é que a Amazônia continua sendo desmatada e isso não pode mais acontecer. Simplesmente não pode!
E, diante de tamanhos tsunamis de corrupção, empenhados em acabar com o que resta, deixei de acreditar tanto e apenas em ativismo de combate, em reportagens catastróficas, em políticas públicas, em COPs e passei a acreditar mais no poder que existe em informar para sensibilizar. Passei a acreditar no poder do coração humano. Se nos falta conexão emocional com a floresta, é porque fomos ensinados a isso. Para compreender melhor o que estou falando, sugiro que você assista o vídeo que indiquei no final deste texto. Nele, conto como foi formado o imaginário sobre o que é a floresta, a partir da visão de pessoas que não nasceram ali, mas que estiveram na região no século 16.
Por isso, precisamos de uma nova educação sobre a Amazônia, de uma nova maneira de aprender e ensinar sobre a floresta. Precisamos de uma educação que vá além da quantidade exagerada, da obsessão em números e que aborde – e faça-nos sentir – a qualidade da floresta. A Amazônia também é organismo vivo, também é alma, também sente, enquanto todo que é e em cada uma de suas partes, representada por todas as formas de vida que a compõe.
Isso é papo de hippie? Não! É ciência. Mas é ciência holística, completa, abrangente, que nos aproxima da grandeza do universo. Esta ciência nos foi negada. E é por ela que proponho novas abordagens e visões para a transmissão de conhecimento e de sabedoria sobre a floresta.
Esta forma de ensinar tem o poder de tocar a mente e o coração. Apenas assim, na união desta “equação”, é que a floresta será salva. Quando digo isso, não tiro a enorme importância de outras frentes de ação, como ativismo e mobilização, mas ressalto a necessidade de se olhar para a base do problema, o cerne dele que está, sim, na falta de conexão emocional com a Amazônia que ocupa a maior parte do nosso país.
Agora, assista ao vídeo sobre o qual comentei acima:
Foto: Jorge Barahona/Unsplash