
Por Rodrigo Vargas*
Cientistas climáticos presentes à COP30 divulgaram no início da tarde da quarta-feira (19/11), em frente ao Pavilhão de Ciências Planetárias, um manifesto conjunto no qual chamam de “provocação” as propostas apresentadas até o momento sobre combustíveis fósseis e desmatamento.
O climatologista brasileiro Carlos Nobre, do Painel Científico da Amazônia, disse que existem apenas dois caminhos diante dos negociadores presentes à conferência.
“A COP30 tem uma escolha a fazer: proteger as pessoas e a vida ou proteger a indústria de combustíveis fósseis. Estamos em um ponto de inflexão planetário. Já enfrentamos perigos. Bilhões de pessoas já sofrem, e avançamos rápido rumo a pontos de inflexão na Amazônia, nos sistemas de recifes de coral tropicais e em muitos outros”, justificou.
A manifestação é uma reação ao tratamento pouco contundente dado especialmente à questão dos fósseis no primeiro rascunho da Decisão Mutirão apresentado pela presidência da COP no início da segunda e decisiva semana da conferência.
“Os delegados parecem não entender o que é um roteiro. Um roteiro não é um workshop ou uma reunião ministerial. Um roteiro é um plano de trabalho real, que precisa nos mostrar o caminho, de onde estamos, para onde precisamos chegar, e como chegar lá”, afirmou Johan Rockström, do Potsdam Institute for Climate Impact Research, em trecho do documento.
Segundo ele, a meta de alcançar emissões zero até 2045 depende da interrupção imediata de novos investimentos em extração, remoção de todos os subsídios existentes e um “plano global sobre como introduzir fontes de energia renováveis e de baixo carbono de maneira justa”.
“O financiamento de países ricos para países em desenvolvimento é imprescindível”, afirmou.
Em entrevista coletiva, a presidente do Conselho Científico da COP30, Thelma Krug, reconheceu que o processo de negociação das COPs é complexo. “São 196 países, muitos dos quais têm restrições de que saia do controle deles um roadmap”, relatou.
Mas disse ter esperanças de que seja possível avançar em direção ao um mapa do caminho, desde que sejam estabelecidas, em lugar de novas metas, “uma indicação de como os países, individualmente, pensam que poderão alcançar o net zero em termos de combustíveis fósseis, sua descarbonização”.
O manifesto, segundo Nobre, será entregue a todos os negociadores. Cópias também serão encaminhadas ao presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago, à CEO da conferência, Ana Toni, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou a Belém.
Segundo ele, a transição energética necessária é “totalmente factível”. “A pedido da Ana Toni, vamos agora criar um painel científico para transição energética e para zerar os combustíveis fósseis. Vamos criar e lançar lá em Bogotá, em abril, na convenção de transição energética. Na COP31 queremos lançar o primeiro relatório. É totalmente factível fazer isso”.
*Texto publicado originalmente no site do Observatório do Clima em 19/11/25
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Foto de abertura: Observatório do Clima





