Mais uma para a já enorme lista de absurdos… Com tantos problemas mais importantes para se preocupar – aumento do desmatamento na Amazônia, violência policial que tirou a vida de nove jovens em São Paulo ou os péssimos índices da educação brasileira apontados pelo recém divulgado teste internacional, o Pisa, o presidente Jair Bolsonaro decidiu sancionar uma lei que institui no Brasil o ‘Dia Nacional do Rodeio‘.
Detalhe: a data escolhida foi 4 de outubro, mesmo dia em que se comemora o Dia Mundial dos Animais e também, o Dia de São Francisco de Assis, santo da Igreja Católica que adorava os animais.
A promulgação da lei foi publicada ontem (04/12), no Diário Oficial da União. O autor do projeto foi o deputado federal Capitão Augusto (PL/SP).
Bolsonaro é fã dos rodeios e em agosto, esteve na 64ª na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, no interior de São Paulo. Em setembro, o presidente já havia sancionado a alteração do texto, de uma lei de 2016, para “reconhecer o rodeio, a vaquejada e o laço como as respectivas expressões artísticas e esportivas, como manifestações culturais nacionais e elevar essas atividades à condição de bens de natureza imaterial integrantes do patrimônio cultural brasileiro”.
Diversas entidades de proteção aos animais vieram a público mostrar repúdio pela criação da data. Em post na sua página no Facebook, a Ampara Silvestre escreveu “Aqui fica o nosso registro de desaprovação e revolta com esta provocação pública contra os animais”.
Em nota enviada ao Conexão Planeta, a Proteção Animal Mundial também criticou veemente a instituição do ‘Dia Nacional do Rodeio’.
“Os rodeios são uma prática cruel. Muitas provas colocam touros, novilhos, cavalos e outros animais em situações de estresse físico e psicológico. Muitos são estimulados com choques e chutes antes de entrar na arena, com o intuito de deixar o animal com medo e entrar agitado, garantindo o show”, afirma Rosangela Ribeiro, gerente de programas veterinários da organização.
Ainda segundo a representante da Proteção Animal Mundial, há provas de rodeio que causam extremo sofrimento e até a morte de animais. Uma das piores seria a prova do laço, em que bovinos jovens, bezerros e novilhos são perseguidos e laçados quando ainda estão em movimento, causando sérias fraturas e deslocamentos na coluna dos bichos. “Muitos animais saem da arena tetraplégicos ou mortos. Alguns rodeios internacionais e nacionais mais profissionais já aboliram esta prova’, diz.
Outra questão levantada pela veterinária é aquela em que seus defensores afirmam que esses eventos representam “a cultura do homem do campo”. “
“O rodeio não faz parte da nossa tradição. A prática foi importada dos Estados Unidos e não traz nenhum enriquecimento ou aprendizado cultural. Ninguém é contra a cultura do campo, as festas podem continuar com a música e a gastronomia do interior do Brasil, mas não precisamos submeter os animais aos maus tratos para o nosso simples entretenimento.
O governo federal instituir o Dia do Rodeio exatamente no Dia Mundial dos Animais é uma afronta à nossa sociedade, que não aceita mais os maus tratos – esse comportamento não deveria, em hipótese nenhuma -, ser enaltecido ou oficializado”, lamenta Rosangela.
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Foto: Marcos Corrêa/PR/Fotos Públicas