Para salvar a Serra do Curral – cartão postal de Belo Horizonte – e convencer o governador Zema (reeleito em 2022) a desistir da ideia de liberar esse paredão natural para a mineração, a população não mediu esforços.
Sua luta tem sido marcada por intensa campanha, intitulada Tira o Pé da Minha Serra, que teve protestos, petições, mobilizações diárias nas redes sociais e a adesão de artistas à causa. Toda essa movimentação ajudou na obtenção de vitórias importantes na Justiça em janeiro deste ano: a suspensão da licença prévia da Tamisa e das atividades das mineradoras Gute Sicht e Fleurs Global, devido a irregularidades no processo de liberação da área.
Ambas atuavam na Serra do Curral com base num Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) – emitido pelo governo, que permite que empresas atuem no território desejado de forma provisória –, ou seja, sem licenciamento ambiental. Primeiro, invadiram a serra e, depois, legalizaram suas atividades ilegais.
No entanto, as decisões da Justiça são provisórias e podem ser revertidas a qualquer momento. As empresas interessadas estão empenhadas e dispõem de grande poder econômico para isso.
Assim, em nova fase, a campanha agora cobra Zema para que ele cumpra a promessa que fez, em diversas ocasiões: “Se ficar comprovado que o processo tem alguma irregularidade, eu serei o primeiro a mudar de opinião”.
As ilegalidades foram comprovadas pela Justiça, então, agora, cabe ao governador honrar sua palavra, mudar de posição e anular definitivamente as autorizações das mineradoras.
E-mail para o Zema
Para participar da pressão, não é preciso ser mineiro, nem morar em Belo Horizonte – afinal, a Serra do Curral é brasileira! E tudo está interligado, certo? Então, CLIQUE AQUI, assine e envie o e-mail da campanha para o Zema.
Alterações perigosas no plano de manejo
Mas ainda existe uma outra ameaça, que favoreceria as mineradoras e paira sobre a Serra do Curral. O Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) ainda vai analisar e votar a proposta de mudanças no Plano de Manejo do Parque Florestal Estadual (PFE) da Baleia, feitas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), entre elas a redução de cerca de 80% da área de amortecimento do parque, deixando a região da serra, em Belo Horizonte, desprotegida.
Essas alterações são defendidas pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e pela Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/MG).
E, caso sejam aprovadas, a Tamisa terá mais facilidade para dar andamento a seu projeto: a construção de um complexo minerário ao longo de 13 anos, que ocuparia uma área total de 101,24 hectares, sendo que 41,27 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica e 6 hectares localizados em Área de Preservação Permanente (APP).
A última reunião aconteceu em 8 de fevereiro, mas a votação foi adiada.
A verdadeira riqueza da Serra
Parte integrante da história mineira, a Serra do Curral foi tombada pela Lei Orgânica do Município e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e sua maior riqueza não está nos minérios.
É o habitat de veados, pacas, araras, cachorros-do-mato, gambás, furões e espécies raras, além de mais de 125 tipos de aves e animais ameaçados de extinção como a jaguatirica, o lobo guará e o porco-do-mato.
Sua flora é bastante rica com áreas de campos rupestres, Cerrado e, também, remanescentes da Mata Atlântica.
Abriga cavernas e nascentes e dois parques: o da Serra do Curral, criado há dez anos, que ocupa uma área de 400 mil m2 de vegetação, e o das Mangabeiras, que integra a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço.
Além disso, a Serra do Curral abriga quilombos, favelas e comunidades periféricas, que já sofrem com os impactos da mineração.
Assista ao mais novo vídeo da campanha Tire o Pé da Minha Serra, gravado com a jornalista Camille Reis e o líder comunitário Kdu dos Anjos (já falamos dele aqui porque seu barraco, na maior favela mineira, em BH, concorre ao prêmio Casa do Ano de concurso internacional e está entre os finalistas)
Foto (destaque): reprodução da campanha
Fontes: Tira o Pé da Minha Serra, G1, Brasil de Fato/Minas