
*Por Jéssica Albuquerque
Ameaçados pelo governo federal, depois que, com o Conama, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles extinguiu regras que protegem manguezais e restingas, esses ecossistemas precisam de ações de preservação tanto quanto biomas como Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e Caatinga.
Na semana passada, mostramos as razões pelas quais é tão essencial preservas as restingas nesta outra reportagem. Agora mostramos porquê é hora de lutarmos pela conservação dos manguezais.
Os manguezais são ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes terrestre e marinho. No Brasil, ocorrem em quase todo o litoral, desde o estado do Amapá até Santa Catarina, provando-se uma das maiores extensões de mangue do mundo.
Reconhecidos por sua alta produtividade biológica e relevância ecossistêmica, os manguezais são fundamentais para o equilíbrio ecológico ambiental, sustentando uma biodiversidade de espécies animais e vegetais, e um importante papel na ciclagem de matéria orgânica.
Além disso, representam um importante meio de subsistência para diversas famílias, contribuindo no desenvolvimento econômico local e na promoção cultural das comunidades ribeirinhas.
São berçários da vida marinha
A grande diversidade de matéria orgânica associada às áreas protegidas entre as raízes das árvores tornam os manguezais ambientes propícios à alimentação, reprodução e desenvolvimento de diversas espécies de animais.
Estas áreas são habitats para ostras, cavalos-marinhos, quelônios, moluscos, crustáceos, aves, mamíferos, répteis, anfíbios e peixes, tornando-o um verdadeiro “berçário da vida marinha”. Neste sentido, preservar os manguezais significa também proteger a fauna marinha e toda sua cadeia ecológica/produtiva.

A saracura-matraca é uma das muitas espécies de aves
observadas nesses ecossistemas
Garantem a subsistência de milhares de pessoas
Por serem ambientes altamente produtivos, os manguezais são reconhecidos por sua importância socioeconômica. Estudos indicam que mais de 75% dos peixes, crustáceos e moluscos capturados para fins comerciais habitam os manguezais em algum estágio do seu ciclo de vida, como as outras e os caranguejos.
A preservação dos manguezais implica na subsistência de pescadores, ribeirinhos, e todos aqueles que, de alguma forma, precisam dos manguezais para sobreviver.

Absorção de carbono atmosférico
Entre os ecossistemas florestais, os mangues são reconhecidos por sua capacidade de absorver a grande quantidade de gás carbônico presente na atmosfera. O “sequestro de carbono”, como este fenômeno natural é conhecido, consiste na transferência de carbono da atmosfera para o solo e a água por meio das árvores do mangue.
Além da importância nos processos bioquímicos naturais, o fenômeno ajuda a combater o aquecimento global e, consequentemente, as alterações climáticas em todo o mundo. Desse modo, entendemos que as florestas de mangues têm influência em todos os processos ambientais que envolvem as mudanças climáticas, a exemplo do degelo das calotas polares e o branqueamento dos corais.

Raízes do mangue
Proteção de regiões costeiras
A vegetação do mangue, principalmente seu sistema de raízes, é capaz de reduzir o impacto da água do mar nas regiões costeiras, protegendo cidades litorâneas contra os efeitos da erosão das marés, tempestades, aumento do nível do mar, e até mesmo tsunamis.
De acordo com relatórios ambientais internacionais, a presença de manguezais em algumas cidades costeiras foi essencial na redução do impacto de tsunamis ao longo da história, como o tsunami do Oceano Índico, em 2004.
Apesar do Brasil nunca ter sido atingido por este fenômeno natural – graças à sua localização geológica privilegiada – outros fenômenos ambientais, como enchentes e alagamentos – causados pela elevação das marés – podem causar grandes estragos ao litoral do país.

A garça-noturna se alimentando no manguezal
Previne o assoreamento
O assoreamento de cursos d’água consiste no acúmulo de sedimentos pelo depósito de solo e outros tipos de detritos no fundo de rios, baías e lagos, sendo responsável por provocar a redução do volume de água de habitats naturais. O assoreamento também torna a água turva, dificulta a entrada de luz e compromete severamente o processo de fotossíntese de espécies vegetais.
O fenômeno ainda aumenta o risco de enchentes, visto que a redução do volume dos rios facilita o transbordamento da água, comprometendo a circulação de embarcações. Apesar de natural, o processo é intensificado pela ação humana com o desmatamento de florestas de mangue.
Atuam como filtros biológicos
Os microrganismos dos manguezais são capazes de processar lama e matéria orgânica, promovendo a fixação e a inertização de partículas contaminantes. O despejo de esgoto nestas áreas, por exemplo, sofre ação de bactérias que retêm nutrientes importantes para equilíbrio do ecossistema, tornando-os parte de sua biomassa.
Todos os “motivos para preservar os manguezais” estão relacionados a diversos outros processos ecológicos de ocorrência natural que sofrem ação direta ou indireta deste ecossistema, responsável por garantir o equilíbrio ambiental e a subsistência de milhares de pessoas.
*Com revisão de Ana Clara Mardegan
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Assine já, aqui, a petição para pressionar o STF pela proteção das nossas restingas e manguezais!
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Fotos: Leonardo Merçon
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