Essa orquídea espetacular foi encontrada entre 2.800 e 3.600 metros de altitude, nas chamadas florestas das nuvens da Cordilheira dos Andes, na Colômbia. Ela cresce em ambientes úmidos e de vegetação abundante no alto das montanhas. Suas folhas são roxas e a delicada flor apresenta tons de vermelho, vinho e açafrão. De pequeno porte, tem cerca de 5 centímetros de altura.
Entretanto, a orquídea de beleza exuberante já tem sua existência ameaçada, afirmam os botânicos responsáveis pela sua descoberta. Segundo eles, 96% de seu habitat pode ser perdido até 2090 por causa das mudanças climáticas, especialmente por causa do aumento da temperatura global e da alteração no ciclo das chuvas.
“Sem esforços globais imediatos e concertados para mitigar as emissões, essa orquídea exemplifica o destino potencial de muitas espécies descritas em ecossistemas vulneráveis às mudanças climáticas, como as altas montanhas dos Andes, onde elas podem já estar em um caminho curto e predestinado para a extinção”, alertam os pesquisadores colombianos em artigo publicado no jornal PhytoKeys.
Os botânicos destacam que Lepanthes não é apenas um dos gêneros de orquídeas mais diversos, mas também é considerado o mais megadiverso globalmente, com 1.196 espécies descritas. E a Colômbia é o país com a maior riqueza dele, totalizando 386 espécies. “Apesar de sua ampla distribuição, a maioria das espécies de Lepanthes apresenta altos níveis de endemismo [que só existem em um único lugar], com muitas conhecidas de uma única localidade, como encostas de montanhas. Essa especialização ecológica as torna altamente suscetível aos efeitos das mudanças climáticas”, afirmam os autores do estudo.
Por causa dessa ameaça iminente, os botânicos escolheram batizar a espécie recém-descoberta de Lepanthes nasariana – nasariana é uma referência ao personagem principal do livro Crônica de uma Morte Anunciada, do escritor colombiano e Nobel da Literatura, Gabriel García Márquez. O leitor já começa a história sabendo que Santiago Nasar irá morrer.
Os cientistas criaram inclusive o termo “Efeito Nasar” para descrever o caso de novas espécies descritas mesmo quando seu desaparecimento é previsto pelas condições que as ameaçam.
“Assim como o destino de Santiago Nasar, a Lepanthes nasariana vive sob uma profecia que não pode ser ouvida. Sua extinção foi prevista pelo aquecimento das próprias nuvens que a abrigam. No entanto, ao nomeá-la, esperamos quebrar esse feitiço, para lembrar ao mundo que ainda há tempo para mudar o final”, ressaltam.
seu ambiente natural, na Cordilheira dos Andes, na Colômbia (imagem C)
Fotos: J.S. Moreno / PhytoKeys, 2025
*Com informações da Pensoft Publishers
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Foto de abertura: J.S. Moreno / PhytoKeys, 2025
