No mundo animal, pouquíssimas espécies fabricam e manejam suas próprias “ferramentas”. Um exemplo dessa raríssima habilidade, por exemplo, já foi observado entre os macacos-prego do Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), que quebram cocos e escavam a terra com pedaços de madeira para buscar alimentos ou ainda, batem pedras para demonstrar força perante outro indivíduo. Todavia, até hoje, não havia conhecimento de que baleias possuíam esse tipo de capacidade complexa.
Pois um novo estudo, inédito, acaba de revelar que baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) usam ferramentas também para garantir sua sobrevivência. Segundo pesquisadores do Instituto de Biologia Marinha da Universidade do Havaí (MMRP) e da Fundação das Baleias do Alasca (AWF), esses cetáceos manipulam as redes de bolhas que produzem para maximizar a ingestão de alimentos em regiões do Alasca.
“Descobrimos que jubarte solitárias no sudeste do Alasca criam redes de bolhas complexas para capturar krill, pequenas criaturas semelhantes a camarões. Essas baleias habilmente sopram bolhas em padrões que formam redes com anéis internos, controlando ativamente detalhes como o número de anéis, o tamanho e a profundidade da rede e o espaçamento entre as bolhas. Este método permite que elas capturem até sete vezes mais presas em um único mergulho de alimentação sem usar energia extra”, explica Lars Bejder, coautor principal do estudo e diretor do Programa de Pesquisa de Mamíferos Marinhos.
Os pesquisadores ressaltam que, no caso das baleias, o sucesso na caça é primordial para a sua sobrevivência. No Alasca, se elas não conseguirem se alimentar de maneira apropriada no verão e no outubro, correm o risco de ficar sem energia (calorias) e perecer no inverno.
Já se sabia do uso das chamadas redes de bolhas como estratégia para a caça dos krills. A baleia mergulha para o fundo e vai nadando ao redor de um cardume de presas, soprando bolhas conforme avança. Esse anel de bolhas forma uma espécie de parede cilíndrica ao redor das presas, impedindo que elas escapem. Então, com a boca aberta, a baleia nada de baixo para cima, engolindo os krills.
Como estudar o comportamento de animais marinhos não é fácil, os cientistas utilizam uma série de tecnologias, como câmeras subaquáticas, sensores e drones, para poder capturar seus movimentos.
“O que acho empolgante é que as jubartes criaram ferramentas complexas que lhes permitem explorar agregações de presas que, de outra forma, não estariam disponíveis para elas”, diz Andy Szabo, diretor executivo da AWF e colíder do estudo. “É essa flexibilidade comportamental e engenhosidade que espero que sirvam bem a essas baleias enquanto nossos oceanos continuam mudando.”
O estudo destaca que esta estratégia de caça parece ser um comportamento aprendido e nem todas as baleias sabem como fazê-lo.
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Foto de abertura: reprodução vídeo Universidade do Havaí