Aves migratórias percorrem voos de longas distâncias, alguns realmente impressionantes, para fugir do frio do inverno, no qual não conseguiriam sobreviver. Há poucos dias uma dessas espécies foi resgatada na praia de Regência, em Linhares, ao norte do Espírito Santo, após percorrer quase 7,5 mil km entre o Hemisfério Norte e o litoral brasileiro. Ela foi encaminhada para receber cuidados.
Ao ser levado para o Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos (Ipram), em Cariacica, na Grande Vitória, a equipe de biólogos e veterinários percebeu que o trinta-réis-boreal (Sterna hirundo) tinha uma anilha na pata. Descobriu-se então que a ave tinha recebido a identificação da United States Geological Survey, em 2012, quando ainda era um filhote, em Massachusetts, nos Estados Unidos.
“A ave estava debilitada, com leve diarreia. Apresentou uma significativa melhora nos primeiros dias em tratamento. Provavelmente estava apenas exausta, consumiu reservas energéticas adiposas e musculares em excesso e não conseguiu seguir em voo com o bando. Digo “apenas”, no sentido de excluir outras causas infecciosas ou traumáticas, mas caquexia e inanição é uma causa comum de debilidade e óbito nas aves marinhas”, explica Luis Felipe Mayorga, médico veterinário do Ipram.
Ainda segundo o especialista, ao contrário de uma ave que come frutas ou sementes e pode seguir se alimentando parcialmente em situações de debilidade, as marinhas predadoras precisam apresentar condições atléticas para seguirem se alimentando. Então muitas vezes um período mais prolongado de jejum e esforço físico excessivo podem ser uma combinação fatal.
Logo que o trinta-réis-boreal estiver mais forte, ele deve ser devolvido à natureza.
“A diarreia é comum e já cessou, decorrente provavelmente do desequilíbrio da microbiota gastrointestinal, devido à imunossupressão relacionada a essa fraqueza. Não temos uma data nem uma previsão precisa, mas no momento estamos relativamente otimistas de que ela deverá ser reabilitada e solta. Em fevereiro, possivelmente”, completa Mayorga.
O profissional destaca também a importância do anilhamento para o melhor entendimento dos hábitos e comportamentos das aves, assim como a troca de informações entre pesquisadores de diferentes países sobre indivíduos específicos.
A ave sendo cuidada no Espírito Santo
(Foto: Divulgação/Ipram)
O trinta-réis-boreal mede aproximadamente 35 cm e pesa em torno de 135 gramas. Originário do Hemisfério Norte, pode ser observado também em países da Europa. Além do Brasil, durante seu período migratório é visto Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina.
Já na época de reprodução, escolhe regiões dos Estados Unidos e México, ilhas do Caribe e costa oeste da África.
Com quatro subespécies descritas pela ciência, vive ao longo da costa, estuários e em praias de rios e lagos.
Apesar da distância incrível percorrida pelo trinta-réis boreal que chegou no Espírito Santo, ele não é nem de perto similar a um recorde batido no ano passado, quando um fuselo voou quase 14 mil km entre o Alasca e o sul da Austrália. A espécie é conhecida por fazer voos de longa distância sem paradas durante a época da migração. O marco foi de um juvenil, de cinco meses, monitorado com sinal de satélite por pesquisadores.
Percurso percorrido pelo trinta-réis boreal
(Imagem Divulgação/Ipram)
*Com informações adicionais do portal de notícias G1 e do site Wikiaves
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Foto de abertura: Radovan Václav/Creative Commons/Flickr