Números. Sem rostos ou nomes, que nos façam entender melhor a dimensão humana dessa tragédia. Mas temos apenas números. Até o momento já são mais de 11 mil mortos e outros 10 mil desaparecidos estimados. Todavia, as vítimas fatais na Líbia podem chegar a 20 mil, segundo a organização local Al-Bayda Medical Center.
A Líbia foi atingida no último final de semana pela tempestade Daniel, que já tinha deixado 15 mortos na Grécia, onde foi considerada o “maior fenômeno extremo em termos de quantidade de chuva em 24 horas”, desde que esses tipos de registros começaram a ser feitos no país.
A tempestade que levou um volume de chuvas recordes à região também provocou inundações na Turquia e na Bulgária. E então seguiu para o norte da África.
Com ventos que chegaram a até 80 km/h, o furacão trouxe chuvas torrenciais para várias cidades da Líbia. A mais afetada delas é Derna, uma localidade portuária, ao lado do mar, onde duas barragens romperam por causa da força da natureza. Nela bairros inteiros foram devastados. Famílias levadas pela enxurrada.
Dias após a passagem de Daniel, os relatos são de que milhares de corpos podem ser vistos nas calçadas. O mar traz outros tantos.
Pouco a pouco organizações internacionais chegam à área para trabalhar na ajuda humanitária. Do local a Libyan Red Crescent compartilha imagens chocantes da tragédia, como um pai acompanhando o resgate do corpo do pequeno filho. Desesperado, o homem chora e pede para poder enterrar a criança.
Países como Egito, Turquia e Emirados Árabes Unidos enviaram equipes de ajuda para a Líbia também. Faltam atendimento médico, estrutura para receber os corpos das vítimas, tendas para os desabrigados, assim como água e comida.
Em meio à enchente, voluntários da Red Crescent tentando salvar mais pessoas
(Foto: Lybina Red Crescent/الهلال الأحمر الليبي)
África sofre de maneira desproporcional efeitos da crise climática
A tragédia na Líbia é apenas um dos muitos exemplos de como países pobres e em regiões mais suscetíveis às alterações do clima são os mais impactados pela crise climática. Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou, mais uma vez, sobre a questão.
“A África é responsável por apenas uma pequena proporção das emissões mundiais de gases de efeito estufa, mas sofre desproporcionalmente as consequências das alterações climáticas. De acordo com um novo relatório, esta situação prejudica a segurança alimentar, os ecossistemas e as economias, contribui para a deslocação e a migração e agrava a ameaça de conflito devido à escassez de recursos”, ressaltou em um comunicado.
Em 2022, mais de 110 milhões de pessoas no continente foram diretamente afetadas por desastres meteorológicos, climáticos e hidrológicos, causando danos econômicos no valor de mais de U$ 8,5 milhões de dólares. Segundo a Base de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT), registaram-se 5 mil mortes, das quais 48% estiveram associadas a secas e 43% a inundações. No entanto, o número real provavelmente é muito maior devido à falta de informações.
“O continente é o menos capaz de lidar com os impactos negativos das alterações climáticas. Ondas de calor, chuvas torrenciais, inundações, ciclones tropicais e secas prolongadas estão a ter efeitos devastadores nas comunidades e nas economias, resultando num aumento da população em risco”, diz Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.
E infelizmente, a expectativa é que esse cenário só piore nos próximos anos. De acordo com a organização, à medida que o planeta se aquece, devemos ver mais eventos de chuvas extremas, o que levará a inundações mais graves, pois o ar mais quente retém mais umidade.
“A maior injustiça da crise climática é que as pessoas que menos contribuíram para ela são as que pagam o preço mais alto com as suas vidas e meios de subsistência. Seis em cada dez pessoas na África não estão protegidas por sistemas eficazes de alerta precoce, a ferramenta mais básica para salvar vidas e proteger os meios de subsistência antes de uma catástrofe”, denuncia Selwin Hart, Conselheiro Especial do Secretário-Geral para Ação Climática e Transição Justa da ONU.
Imagem mostra centenas de corpos nas ruas e praças da cidade líbia
(Foto: Lybian Red Crescent)
*Texto atualizado em 15/09/23 para alterar o número de mortos
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Foto de abertura: Derna Zoom via @WxNB_