Ninguém duvida da inteligência dessas aves australianas. Como contou o pesquisador Sandro Von Matter nesta outra reportagem, há alguns anos foi observado nas florestas daquele país que as cacatuas-das-palmeiras (Probosciger aterrimus) produzem verdadeiras sequências rítmicas. Os machos constroem instrumentos com pequenos galhos, moldando-os com seus bicos em formas semelhantes a baquetas de bateria. Em seguida, escolhem troncos ocos com propriedades acústicas especiais, onde se posicionam e batem suas baquetas com intervalos rítmicos perfeitos, durante um longo espaço de tempo.
Agora, um novo estudo revela que as cacatuas-de-crista-amarela (Cacatua galerita) têm demonstrado uma inteligência pra lá de aguçada para conseguir abrir lixeiras que os humanos australianos insistem em manter fechadas. O assunto que parece engraçado rendeu até um artigo científico, em que pesquisadores do Max Planck Institute of Animal Behavior detalham quais têm sido as estratégias usadas por ambos os lados dessa batalha.
“Quando vi pela primeira vez um vídeo das cacatuas abrindo as lixeiras, pensei que era um comportamento tão interessante e único e sabia que precisávamos investigar isso”, conta Barbara Klump, ecologista comportamental do instituto e autora principal do artigo.
Para os cientistas, já existe uma “corrida armamentista de inovação interespécies”.
“Não é apenas um aprendizado social do lado da cacatua, mas também um aprendizado social do lado humano. As pessoas criam novos métodos de proteção por conta própria, mas muitas pessoas realmente aprendem com seus vizinhos ou pessoas na rua, então elas se inspiram em outra pessoa”, diz Barbara.
As cacatuas estão interessadas, obviamente, em restos de comida, sobretudo, de pão. Já os australianos só querem manter o lixo dentro da lixeira e não ter que catar resíduos jogados para todos os lados por seus vizinhos alados.
Nesse embate, vale de tudo. Colocar peso sobre a tampa da lixeira, cadeados especiais e o que mais a imaginação humana inventar. O grande problema é que as lixeiras não podem ser totalmente fechadas porque quando o caminhão de coleta passa um braço especial aciona a tampa, que precisa se abrir facilmente.
E pelo que parece, as aves simplesmente não desistem… E quando uma tem sucesso, logo um bando delas se aproxima…
Para ela, esse é um tipo de comportamento que se verá com cada vez maior frequência entre certas espécies de animais e homem, já que a expansão urbana avança rumo ao habitat desses seres.
“À medida que as cidades avançam, teremos mais interações com a vida selvagem. Espero que haja uma melhor compreensão e mais tolerância em relação aos animais com quem compartilhamos nossas vidas”, destaca.
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Fotos: Barbara Klump/Max Planck Institute of Animal Behavior