Onças-pintadas melânicas, ou pretas, como são popularmente chamadas, representam pouco menos de 10% de todos os indivíduos dessa espécie (Panthera onca) encontrados na natureza. Apesar disso, numa área específica do Brasil elas podem ser vistas em maior número. Bem maior. Ao norte do estado de Minas Gerais, próximo à divisa com a Bahia e Goiás, numa região de Cerrado, esses felinos de pelagem escura chegam a contar por 40% de todas as onças-pintadas avistadas ali.
Uma delas, inclusive, foi flagrada recentemente por armadilhas fotográficas na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Porto Cajueiro, localizada no município de Januária. O registro faz parte do Projeto Mamíferos e segundo especialistas indica uma provável conexão com a população de onças-pintadas do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, localizado a cerca de 30km dali.
“Essa potencial conexão é muito importante, pois possibilitaria o movimento de animais através da região, o que é essencial para a manutenção da população de onça-pintada, já que a espécie precisa de grandes áreas naturais para sobreviver”, explica Marcell Soares Pinheiro, biólogo e coordenador de campo do Instituto Biotrópicos, que apoia o Projeto Mamíferos.
É no Parque Nacional Grande Sertão Veredas que vive Guirigó, outra belíssima onça-preta, sobre a qual falamos em julho aqui no Conexão Planeta. O macho de olhos amarelos, que recebeu esse nome em homenagem a um dos personagens do famoso romance de Guimarães Rosa, foi capturada, brevemente, pela equipe do Onçafari e ganhou um rádio-colar com GPS.
Guirigó fará parte de um projeto inédito de monitoramento de onças-pretas no Cerrado. Os pesquisadores querem descobrir se existe algum comportamento diferente entre onças-melânicas e onças-pintadas de pelagem normal e se a cor mais escura interfere de alguma maneira na vida e movimentação desses indivíduos.
Raríssimas na natureza, as onças-pretas apresentam uma variação melânica – possuem mais melanina, o que dá à pelagem a tonalidade escura. Elas ainda possuem as rosetas, manchas na pele, que servem para identificar os indivíduos, todavia, essas pintas são mais difíceis de serem vistas.
Ainda segundo Pinheiro, a presença da onça-pintada melânica observada na RPPN Porto Cajueiro sinaliza que a unidade de conservação pode servir de “trampolim ecológico”, um ponto estratégico de ligação entre áreas de habitat natural.
“Para que as onças alcancem outras unidades de conservação da região, como, por exemplo, o Parque Estadual Veredas do Peruaçu ou outras áreas protegidas nas margens do rio Carinhanha”, diz.
Além da enigmática onça-preta, as armadilhas fotográficas da Reserva Porto Cajueiro, que tem 18 mil hectares, outras espécies também ameaçadas, como lobo-guará, anta, jaguatirica e tatu-do-rabo-mole.
Mapa mostra a área do parque onde a onça-preta foi fotografada
(Foto: divulgação Usina Coruripe)
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Foto: divulgação Usina Coruripe