É só do alto, através de imagens de drones, que as obras do francês Guillaume Legros podem ser vistas. Gigantescas, essas pinturas produzidas com tintas biodegradáveis são efêmeras, ou seja, em pouco tempo, são apagadas pelos elementos da natureza. Mas o sonho de Saype (uma junção das palavras em inglês, Say Peace – Diga Paz, em tradução livre), como o francês ficou mais conhecido, é que a mensagem delas entre no coração dos habitantes do planeta: com o projeto “Beyond Walls”, ele convida todos a se unirem numa corrente de bondade e ajuda mútua.
Idealizado em 2019, o projeto tem como objetivo criar a maior corrente humana ao redor do globo. Mesmo que seja apenas simbolicamente. Para isso, Saype pretende levar suas obras para mais de 30 cidades do mundo. E agora é a vez do Brasil receber suas megapinturas, a 15ª etapa da empreitada.
Os desenhos sempre mostram mãos entrelaçadas, estendidas e unidas. “É um esforço comum para além de todas as paredes que separam os humanos e os encerram em espaços mentais ou geográficos. Assim, as paredes erguidas nas mentalidades tornam-se divisórias fictícias, apagadas pela imaginação artística”, diz Saype.
Em cada lugar que visita, o artista imprime marcas sutis das origens locais. No Rio de Janeiro, que é ponto inicial da viagem brasileira, ele tirou fotos de mãos de frequentadores da praia de Copacabana. E no último final de semana, iniciou a pintura da areia do posto 2.
Nesta quarta-feira, Saype revelou o lindíssimo resultado. Com 1.500 m2, a obra em preto e branco pode ser vista do alto. “Entre a imagem de cartão-postal de Copacabana, que ainda carrega as marcas trágicas da história, as mãos gigantescas de “Beyond the Walls” lutam para superar as fraturas do passado e as que ainda estão muito presentes”, escreveu ele em suas redes sociais.
Ainda no Rio, o artista produziu outra pintura, no Morro do Zinco, no bairro do Estácio, onde ele jogou bola com moradores.
Para não provocar impacto ambiental, a tinta empregada por Saype é confeccionada com carvão vegetal e giz. Na areia de Copacabana, a obra já foi apagada pelas ondas do mar. Mas não da mente daqueles que continuam a vê-la através de fotos ou que estiveram no local enquanto o francês trabalhava.
É praticamente impossível não lembrar do verso de outro artista, o poeta carioca Vinícius de Moraes, quando se fala na obra de Saype, ainda mais agora que ela chega, mesmo por pouquíssimo tempo, no Rio de Janeiro: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure…”.
A obra do alto: seres humanos dando a mão ao redor do planeta
Saype seguirá nos próximos dias para Brumadinho, em Minas Gerais, onde ele trabalhará no campo de futebol que foi usado como local de pouso do Corpo de Bombeiros para o resgate dos corpos das vítimas do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em 2019.
Pintura feita no gramado do campo de futebol da comunidade Morro do Zinco
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Fotos: divulgação Saype