A descoberta dos pesquisadores da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, se deu totalmente por acaso. Enquanto examinavam em laboratório os olhos de aranhas saltadoras usando um oftalmoscópio, que pode tirar fotos das retinas de insetos e aracnídeos, eles encontraram manchas escuras em alguns de seus fotorreceptores, sugerindo que degeneração de sua visão.
“Você poderia dizer apenas olhando para eles que alguns dos fotorreceptores haviam morrido”, relembra Elke Buschbeck, professora da Escola de Artes e Ciências.
Ao aprofundar a análise, os cientistas suspeitaram que a degeneração poderia estar ligada à má-nutrição. Para testar tal hipótese, eles compararam dois grupos de aranhas saltadoras: o primeiro foi alimentado com uma dieta normal e o segundo apenas com meias-porções.
O teste apontou que no grupo subalimentado, as aranhas perderam mais fotorreceptores, principalmente na parte da retina que possui a maior densidade deles, o equivalente à mácula no olho humano, ou seja, a parte onde a informação visual é processada. .
“Os fotorreceptores demandam muito energia. Se você priva as aranhas de alimentos, o sistema falha”, revela Buschbeck.
As aranhas-saltadoras (Salticidae) pertencem à família com o maior número de espécies descritas. Entre suas principais características estão seu comportamento durante o ritual de cortejo, hábitos de caças peculiares e sua excelente visão. Elas dependem dela para atacar suas presas.
Os pesquisadores esperam agora que a descoberta possa ajudar no desenvolvimento de novos estudos para tratar a degeneração macular nos seres humanos. Só nos Estados Unidos, ela afeta cerca de 20 milhões de pessoas. É a causa mais comum de perda de visão entre os mais velhos e não tem cura.
“O que é interessante é que a degeneração macular em humanos também tem evidências de estar ligada a processos metabólicos e dificuldade de entrega de energia”, ressalta a professora.
O próximo passo é entender se degeneração começa nos tecidos de suporte ao redor dos fotorreceptores e quais nutrientes em particular ajudam uma boa saúde visual.
“Não seria incrível se um avanço nos tratamentos de degeneração macular para humanos fosse inspirado pelo trabalho com aranhas saltadoras comuns em quintais nos Estados Unidos?” conjectura Nathan Morehouse, professor de Ciências Biológicas e um dos envolvidos na descoberta. “Às vezes, as respostas para problemas desafiadores podem vir de lugares inesperados”.
*O artigo científico, em inglês, que descreve a descoberta dos pesquisadores da Universidade de Cincinnati pode ser lido neste link.
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Foto de abertura: Joseph Fuqua II/UC