
Vestígios de glifosato, o principal ingrediente ativo de diversos pesticidas e herbicidas, já foram identificados em praticamente todos os alimentos e bebidas que ingerimos: desde cereais consumidos por crianças no café da manhã até cervejas e vinhos.
Registrado em 130 países, esse agrotóxico tem sua utilização aprovada para mais de 100 cultivos diferentes, apesar de, em 2015, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter alertado que ele provocou câncer em animais tratados em laboratório e é um potencial causador de alterações na estrutura do DNA e cromossomos das células humanas.
Agora uma nova descoberta feita por pesquisadores franceses associa a presença do glifosato com a infertilidade masculina. Em um artigo científico publicado na Science Direct, os autores revelam que mais de 55% das amostras de esperma de uma clínica de infertilidade continham a substância.
“A exposição ambiental a desreguladores endócrinos, como pesticidas, poderia contribuir para o declínio da fertilidade humana. O glifosato é o principal componente dos herbicidas mais comumente usados no mundo. Vários estudos em modelos animais demonstraram sua toxicidade reprodutiva“, dizem os pesquisadores. “Na Europa, a autorização do uso do glifosato na agricultura foi prorrogada até 2034. Entretanto, a toxicidade da substância nos seres humanos ainda está em debate”, alertam.
A análise apontou ainda que o nível do pesticida medido no esperma é quatro vezes mais alto do que o encontrado no sangue, o que soa um grande alarme sobre o efeito do agrotóxico na reprodução humana.
Além disso, os pesquisadores observaram uma correlação entre o agrotóxico e o estresse oxidativo no plasma seminal, que serve como veículo para os espermatozoides ejaculados.
Segundo um relatório divulgado em abril pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 a cada 6 pessoas (17,5%) no mundo enfrentam dificuldades para engravidar, uma taxa que especialistas afirmam aumentar ano a ano e ser um fenômeno mundial.
Entre as principais causas apontadas para a infertilidade estão estresse, sedentarismo, tabagismo, obesidade, consumo de álcool excessivo, uso de substâncias, poluição ambiental e plástica. Esses fatores podem impactar a qualidade e a quantidade dos gametas, as células responsáveis pela transferência dos genes na reprodução sexuada.
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Foto de abertura: Ciencias Españolas, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons