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O lobo terrível voltou? Cientistas afirmam que deram vida à espécie extinta há mais de dez mil anos, que viveu nas Américas

O lobo terrível voltou! Cientistas dão vida à espécie extinta há mais de dez mil anos, que viveu nas Américas

Atualizado em 8/4/2025

lobo terrível viveu entre 250 mil (o registro mais antigo) e dez mil anos atrás (última vez em que foi visto), em regiões que abrigam a Venezuela, os Estados Unidos e os Canadá, onde foram encontrados fósseis da espécie.

A alcunha de ‘terrível’ pode lhe ter sido dada ao mamífero pré-histórico. por volta no século XIX – certamente porque o animal era um perigoso predadorque se alimentava de bisões e mastodontes, entre outros animais – e, mais tarde, os cientistas o batizaram de Aenocyon dirus, que também define sua índole: aeno, do grego terrível, e cyon, também do grego, cão, mais o nome de espécie dirus, do latim diro, duro, cruel, feroz  ou terrível.

A existência desse lobo foi lembrada em duas ocasiões, ambas relacionadas à cultura e não à ciência: em 1970, com a música Dire Wolf, da banda Grateful Dead (“Quando acordei, o Lobo-Terrível / Seiscentos quilos de pecado  / Estava sorrindo na minha janela / Tudo o que eu disse foi: ‘Entre”) e na série Game of Thrones, da HBO (2011 a 2019) – baseada nos livros ‘A Song of Ice and Fire’, de George R.R. Martin – com os mascotes da “família Stark”. 

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O lobo terrível na série de TV Game of Thrones
Foto: divulgação

Agora, o lobo terrível volta não apenas em imagens ou como referência, mas vivo, em carne, osso, pelos.. pelo menos foi o que anunciaram os cientistas da startup Colossal Laboratories and Biosciences – empresa americana de biotecnologia e engenharia genética, ontem, 7 de abril. E contaram que isso só foi possível graças a dois fósseis de épocas distintas: dentes de 13 mil anos atrás, encontrados em Ohio, e um crânio bem mais antigo, de 72 mil anos, escavado em Idaho, ambos nos EUA.

Fundada em 2021 com o objetivo de “ressuscitar” animais extintos em versões modificadas em busca do equilíbrio ambiental, a empresa reúne cerca de 130 cientistas e, assim, realizou sua primeira desextinção

“Híbridos geneticamente modificados

Em dois artigos (O retorno do Lobo Terrivel  e A Ciência por trás do Retorno do Lobo Terrível), a revista TIME descreve os detalhes da proeza. Com o DNA preservado dos fósseis, os cientistas decodificaram o genoma do lobo, reescreveram (com tecnologia Crispr) o código genético do lobo cinzento (por serem visualmente semelhantes, apesar de terem linha genética distinta) e usaram cães domésticos como mães substitutas.

Assim, a espécie foi “recriada” e nasceram três espécimes. Os dois primeiros, em 1 de outubro de 2024, batizado de Romulus e Remus (fotos abaixo), que agora estão com seis meses, medem quase 1,2 m de comprimento, pesam 36 kg e podem crescer até 1,8 m e 68 kg.  

O lobo terrível voltou! Cientistas dão vida à espécie extinta há mais de dez mil anos, que viveu nas Américas
Um dos irmãos, recém-nascido
Fotos (esta e a seguir): Colossal Biosciences / divulgação
O lobo terrível voltou! Cientistas dão vida à espécie extinta há mais de dez mil anos, que viveu nas Américas
Romulus e Renus poucos dias depois do nascimento
O lobo terrível voltou! Cientistas dão vida à espécie extinta há mais de dez mil anos, que viveu nas Américas
Os dois, com cerca de um mês
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Os irmãos com cerca de dois meses
O lobo terrível voltou! Cientistas dão vida à espécie extinta há mais de dez mil anos, que viveu nas Américas
Romulus e Remus com cerca de cinco meses: sempre juntos, brincam, mordiscam um outro,
correm, mas quando um humano se aproximam, eles se esquivam

Os nomes são homenagens aos irmãos gêmeos Rômulo e Remo que, segundo a mitologia romana, foram alimentados por uma loba. O primeiro foi fundador e primeiro rei de Roma.

Em 31 de janeiro de 2025, chegou Khaleesi (título da esposa de Khal, senhor da guerra, dado à personagem Daenerys Targaryen de Game of Thrones), que está com três meses e preservada pelos cientistas porque ainda é muito pequena, a única fêmea e sozinha.

Os irmãos estão sendo tratados em um centro de preservação da vida selvagem nos Estados Unidos – sem contato humano constante -, local que a reportagem da TIME visitou sob promessa de manter em sigilo para evitar a aparição de curiosos. Por isso, apenas Romulus e Remus têm sido fotografados e filmados (são eles nas imagens que ilustram este texto).

Importante ressaltar que a Colossal utilizou uma técnica menos invasiva de clonagem e de edição genética para recriar indivíduos dessa espécie. O feito inédito não envolveu a recriação integral do DNA do lobo terrível, mas uma edição genética de lobos modernos, com alterações em cerca de 20 regiões do genoma, para obter algumas características da espécie extinta.

Por issoapesar de este ser considerado um marco pelos pesquisadores, “não apenas para nós como empresa, mas também um salto para a ciência, a conservação e a humanidade” – como declarou a Colossal nas redes sociais -, eles entendem que ainda é muito cedo para afirmar que foi dado um passo definitivo para trazer animais extintos à vida. 

Afinal, os animais apresentados não são lobos iguais aos que viveram há mais de 10 mil anos, mas “híbridos geneticamente modificados com base em fragmentos de DNA ancestral”. São, portanto, animais transgênicos.

E tem mais um detalhe importante para a Ciência: o artigo que descreve a pesquisa ainda não foi publicado em revistas científicas, nem analisado e revisado por pares. A Colossal não comentou esse assunto.

Por que ressuscitar animais?

O lobo terrível não é o primeiro animal que a Colossal quer desextinguir. A empresa quer trazer de volta à vida o dodô (Raphus cuculatus), ave endêmica das Ilhas Maurício, no Oceano Índico que desapareceu no fim do século XIX, dizimada pela caça predatória. Como contamos aqui, em fevereiro de 2023, a empresa anunciou investimentos bilionários para a empreitada. 

Beth Shapiro e Bem Lamm, diretores da Colossal, com a imagem de dodô
Beth Shapiro e Bem Lamm, diretores da Colossal, com a imagem de dodô
Foto: divulgação

Além da ave peculiar, os cientistas da startup sonham também em trazer de volta o mamute lanoso, o tilacino (lobo da Tasmânia) e o tigre da Tasmânia

Em março deste ano, a empresa surpreendeu a comunidade científica ao contar que havia copiado o DNA do mamute para criar ratos lanosos, criaturas com a pelagem longa e dourada e o metabolismo de gordura acelerado do mamute (contamos aqui).

Cientistas criam rato peludo, que acreditam ser um passo mais próximo de ‘ressuscitar’ os mamute
Cientistas criam rato peludo, que acreditam ser um passo mais próximo de ‘ressuscitar’ os mamute
Foto: Colossal / divulgação

Mas a empresa alega que, além de que trazer espécies extintas de volta à vida, outro grande objetivo é impedir que animais extremamente ameaçados cheguem à extinção, já que as técnicas utilizadas são as mesmas. 

Na verdade, sua ambição vai um pouco além: o que aprenderam restaurando o mamute, pode ajudá-los a criar elefantes mais robustos que sobrevivam melhor às devastações climáticas.

Eles destacam que o aquecimento global tem levado ao aumento das temperaturas nas tundras da América do Norte e da Sibéria, liberando grandes volumes de dióxido de carbono na atmosfera. A tundra hoje é ocupada por musgo, mas, na época dos mamutes, tinha pastagens e arvores. Se os mamutes voltarem, esse cenário também pode ser resgatado. 

Trazer de volta o tilacino, outro exemplo, “pode ajudar a preservar o marsupial conhecido como quoll oriental”. E, no caso do lobo terrível, técnicas semelhantes usadas em sua desextinção talvez possam salvar o lobo vermelho do desaparecimento completo.

Com o retorno desses animais, os pesquisadores da Colossal acreditam que o equilíbrio do planeta pode ser restaurado, ajudando a conter as emissões de dióxido de carbono.

E parece que não só eles acreditam que tudo isso seja possível. Desde sua fundação, a empresa tem arrecadado bilhões de dólares em doações e investimentos. De acordo com avaliações de mercado, hoje, com apenas quatro anos, a Colossal vale aproximadamente US$ 10 bilhões ou cerca de R$ 58 bilhões. 

Reconciliação com a natureza?

“Somos [a humanidade] uma força evolucionária neste ponto”, disse Beth Shapiro, diretora científica da Colossal, à TIME. “E estamos decidindo o futuro dessas espécies”. 

Para Shapiro e Bem Lamm, CEO da Colossal, a engenharia genética é vital para reverter o cenário previsto pelo Center for Biological Diversity: “30% da diversidade genética do planeta será perdida até 2050”. E vão além: é uma forma de os seres humanos – que levaram tantas espécies à beira da extinção e, em alguns casos, à extinção – “se reconciliarem com a natureza”.

“Se quisermos um futuro que seja bionumeroso e cheio de pessoas deveríamos nos dar a oportunidade de ver o que nossos grandes cérebros podem fazer para reverter algumas das coisas ruins que já fizemos ao mundo”, declarou a cientista à TIME.

No mínimo, prepotente e polêmico. Também perigoso.

A seguir, assista a dois vídeos produzidos pela Colossal sobre o experimento com o lobo terrível:

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Fotos (destaque): Colossal Biosciences / divulgação

Com informações da Biosciences e da revista TIME

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