Nada como nadar em um riacho e sentir a calma e o silêncio embaixo da água, certo? Errado. Cientistas acabam de descobrir que um minúsculo peixe, que mede no máximo 12 milímetros e possui o menor cérebro dentre todos os vertebrados, consegue produzir sons de mais de 140 decibéis, ou seja, comparável ao ruído que um ser humano percebe de um avião a jato durante a decolagem a uma distância de 100 metros.
Apesar de outras espécies do mundo animal produzirem sons bastante altos – é o caso do elefante, por exemplo, que com sua tromba emite um bramido de 125 decibéis -, os peixes eram até agora considerados bichos mais quietos, por assim dizer.
Mas gravações acústicas feitas em laboratório com o Danionella cerebrum revelaram que, apesar de seu tamanho, ele emite um som altíssimo.
“Este minúsculo peixe pode produzir sons de mais de 140 decibéis a uma distância de 10 a 12 milímetros, bastante incomum para um animal de tal porte”, diz o ictiologista Ralf Britz.
A descoberta se deu por acaso. Pesquisadores começaram a notar os sons ao passar pelo aquário onde estavam esses peixes, uma espécie descrita apenas há poucos anos, em 2021, e que vive em riachos de águas turvas de Myanmar e de regiões do nordeste da Índia. Pouco maior do que uma unha da mão, ele tem o corpo translúcido e por isso é possível ver seus órgãos, como seu diminuto cérebro. Por esta razão, ele é usado por neurocientistas em suas pesquisas médicas.
Ao usar uma uma combinação de vídeo de alta velocidade, tomografia microcomputadorizada e análise de expressão genética, os cientistas descobriram que os machos da espécie Danionella possuem um aparelho gerador de som único, que inclui cartilagem de tambor, uma costela especializada e um músculo resistente à fadiga.
“Este aparelho acelera a cartilagem do tambor com uma força de mais de 2 kg e atira-a contra a bexiga natatória para produzir um pulso rápido e alto. Esses pulsos são interligados para produzir chamadas com contrações musculares alternadas bilateralmente ou unilaterais”, explica Britz.
Os cientistas da Senckenberg Society for Nature Research e da Universidade de Charité, na Alemanha, acreditam que o som emitido por essa espécie possa servir como forma de comunicação ou então, para competir com outros machos.
“Compreender a extraordinária adaptação do Danionella cerebrum expande o nosso conhecimento da locomoção animal e destaca a notável diversidade de mecanismos de propulsão em diferentes espécies. Isso contribui para uma compreensão mais ampla da biologia evolutiva e da biomecânica”, dizem os pesquisadores num artigo publicado no jornal PNAS.
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Foto de abertura: Senckenberg / Britz