Não são apenas os pais humanos que conversam e cantam para seus filhos mesmo antes deles nascerem. Pesquisadores da Austrália fizeram uma descoberta extraordinária ao constatar que algumas espécies de pássaro da família Maluridae, como a fadinha-soberba (Malurus cyaneus) – o macho colorido à esquerda e a fêmea, marrom, à direita acima -, apresentam o mesmo comportamento. As fêmeas ensinam os filhotes, ainda dentro do ovo, a cantar.
Há cerca de uma década cientistas colocaram gravadores em ninhos de fadinhas-soberbas e notaram que a fêmea cantava para os ovos que ainda não tinham eclodido. Todavia, o mais surpreendente foi perceberem que, após o nascimento, essas aves reproduziam parte da melodia ensinada pela mãe ao pedir comida aos pais.
Para ter certeza sobre esse comportamento, pesquisadores trocaram alguns ovos entre ninhos da espécie. Constataram então que os filhotes que nasceram mais tarde cantavam a canção do novo ninho onde foram colocados, e não do original, indicando que reproduziam a música aprendida ali.
Mais recentemente, esse comportamento incrível foi confirmado também em sete outras espécies, relacionadas à fadinha-soberba.
“As fêmeas produzem um elemento de assinatura vocal em seus embriões, que é posteriormente produzido por seus filhotes”, explica a ecóloga Sonia Kleindorfer, professora das Universidades de Vienna e Flinders e principal autora de um artigo científico sobre o tema divulgado na publicação The American Naturalist.
Ainda segundo os envolvidos no estudo, a precisão da reprodução da vocalização ensinada pela mãe era melhor se ela tivesse cantado em um ritmo mais lento quando os filhotes ainda eram apenas embriões, o que sugere que mesmo sendo embriões, eles estavam realmente prestando atenção.
Não se sabe exatamente porque esse tipo de comportamento foi desenvolvido por essas espécies. Uma das hipóteses é que dessa maneira ovos de outros pássaros colocados em seus ninhos propositalmente para serem chocados, como os oportunistas cucos fazem, após eclodirem não serão reconhecidos como seus por cantarem de maneira diferente.
Outra possibilidade levantada é que o ensinamento seria parte de um processo evolutivo, que as fêmeas estariam passando para seus descendentes e transmitidos de geração para geração.
Uma fêmea de fadinha-soberba em frente ao ninho
(Foto: divulgação Flinders University)
*Com informações e entrevistas contidas no texto da Flinders University
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Foto de abertura: benjamint444, CC BY-SA 3.0 via Wikimedia Commons