Planejamento e protocolos de ações junto a moradores da Bacia do Alto Paraguai trouxeram números animadores: uma redução de 88% dos incêndios nas 24 áreas selecionadas para receber um treinamento específico. São as chamadas Brigadas Pantaneiras.
Os dados são do projeto SOS Pantanal, que atua na instalação e manutenção dessas brigadas no bioma.
“É um sentimento de missão realizada”, diz Ananda Santa Rosa, coordenadora de Monitoramento Ambiental do projeto SOS Pantanal. “A aderência dos pantaneiros e o sentimento de orgulho de se sentirem parte disto, em especial as mulheres e jovens, fazem a gente querer persistir e entender que o programa teve muitos pontos positivos, além da redução de detecção de área queimada e fogos ativos”, afirma.
A ideia do programa Brigadas Pantaneiras surgiu após os incêndios de 2020, que destruíram quase 30% da vegetação do bioma e mataram 17 milhões de animais.
“Parte da equipe do SOS Pantanal, que participou das operações segurando o abafador e como combatente, arregaçou as mangas para não ver mais esta realidade”, lembra Ananda. Os locais para o trabalho foram escolhidos a dedo. Segundo o instituto, são espaços com risco alto de fogo e sem atenção pontual do governo.
A comunidade é convidada a participar de uma oficina de qualificação com carga horária de 16 horas. As aulas são divididas em duas partes: prática e teórica. Nesta última, são ministradas informações sobre comportamento do fogo, técnicas de prevenção e combate, uso de equipamentos, ferramentas e equipamentos de proteção individual (EPI).
Já na etapa prática, queima-se uma área (já delimitada com segurança) para os alunos fazerem ações para apagar o fogo. É aqui também que se aprende como fazer o uso adequado dos equipamentos.
Depois disso, o SOS Pantanal faz um acompanhamento por meio do monitoramento com o auxílio de geotecnologias e com visitas às áreas pós-estiagem. Os técnicos avaliam as respostas e os desafios naquele momento e para a próxima temporada.
Treinamento prático envolve ações de enfrentamento ao fogo
(Foto: Heideger Nascimento)
Balanço e planos futuros
Em dois anos e meio, o Brigadas Pantaneiras qualificou cerca de 350 pessoas. São cidadãos que sabem identificar áreas de calor com potencial para virar incêndio florestal. “Há uma expectativa de expandir para territórios indígenas que continuam vulnerabilizados, além de fortalecer as que já existem”, conta Ananda.
No relatório produzido pelo SOS Pantanal, patrocinado pela Fundação Toyota, consta também o impacto positivo na redução dos incêndios de outras iniciativas da sociedade civil e do poder público. E há também um alerta: faltam investimentos em tecnologia inteligente que possa alertar as comunidades dos perigos em tempo real.
“Estávamos fazendo um monitoramento diário, entregando dois mapas durante todo o período da seca. A questão é que incidentes podem surgir a qualquer momento, assim como novas linhas de fogo”, argumenta a coordenadora.
Localizado entre os estados de Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS), o Pantanal é a maior área úmida continental do planeta com mais de 4.700 espécies catalogadas.
Programa possibilitou a redução de detecção de área queimada e fogos ativos
(Foto: Heideger Nascimento)
Leia também:
Expedição inédita monitora águas do Pantanal, percorrendo municípios do Mato Grosso do Sul
Brigada Alto Pantanal: pesquisadores, empresários, artistas e organizações se unem para criar brigada permanente
Impressionante e assustador: o que é o incêndio em turfa, que provocou a maior destruição do Pantanal nos últimos 50 anos
Pantanal em chamas
Foto de abertura: Heideger Nascimento