Como faz desde 2019, o Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil – MapBiomas – divulgou esta semana, em 12/6, seu Relatório Anual do Desmatamento (RAD2022), com dados do levantamento sobre desmatamento no ano passado, quando o país perdeu mais de 20 mil km² de vegetação nativa, o que significa aumento de 22,3% em relação a 2021.
O dia em que mais se desmatou no país foi 25 de julho: 6.945 hectares destruídos (69,45 km2), o equivalente a 8.400 campos de futebol.
Com 21 árvores derrubadas por segundo ou 1.260 a cada minuto – o equivalente a 32,6 km² desmatados por dia ou, ainda, 1,4 km² por hora -, a Amazônia foi o bioma mais devastado. O segundo foi o Cerrado com 0,75 km² destruídos por hora ou 18 km²/dia.
A velocidade com que se devastou no Brasil – velocidade média por alertas – chamou a atenção dos pesquisadores: foi registrado aumento em quase todos os biomas, com exceção da Mata Atlântica, onde o ritmo “se manteve estável”, revela o documento.
Em 2021, os alertas/dia foram de 0,18 hectares; já em 2022, passaram para 0,20 hectares, o que representou a perda de 2,3 km² por hora ou ou 56,3 km² por dia, no país.
A atividade agropecuária foi responsável por cerca de 95% de todo o desmatamento no país. Mas, em algumas áreas do Pará, foram registrados alertas concentrados, provocados pelo garimpo.
Área desmatada
Nesta categoria, Amazônia e Cerrado também lideram a lista de biomas mais afetados, com 11,9 mil km² derrubados (58% do total) e 6,5 mil km² (32,1%), respectivamente, representando 90% do total do país.
Apenas cinco estados abrangidos pelos dois biomas concentraram 2/3 ou 66% da devastação do país em 2022: Amazonas, Bahia, Maranhão, Mato Grosso e Pará.
Este último foi o líder do desmate, com 4,5 mil km² (22% de área), seguido por Amazonas, com 2,7 mil km² (13,3%), Mato Grosso com 2,4 mil km² (11,6%), Bahia com 2,3 mil km² (10,9%) e Maranhão com 1,7 mil km² (8,2%).
Outro dado preocupante trazido pelo relatório é que as áreas desmatadas estão maiores: em 2022, houve aumento de quase 20% na quantidade de desmatamentos em áreas com mais de 100 hectares, por alerta. Essas áreas geraram apenas 4,8% dos alertas, no entanto, respondem por 60,6% do total desmatado em todo o país.
Já as áreas com menos de 25 hectares registraram 80% dos alertas, mas representam apenas 15% do que foi desmatado.
Propriedades rurais, terras indígenas e quilombos
Lembra da polêmica sobre as alterações na MP 1154 (sobre a estrutura do atual governo) feitas por comissão mista no Congresso Nacional? Uma das mudanças foi a retirada do CAR – Cadastro Ambiental Rural do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) – para o qual havia voltado com Lula e Marina Silva – e sua transferência para o Ministério da Agricultura. E qual o interesse disso?
O CAR foi instituído pelo Código Florestal em 2014 e controla a regularização ambiental das propriedades rurais em todo o país. E veja, a seguir, uma prova de que é um erro tirá-lo do MMA.
Segundo o relatório, 79% do desmatamento no país aconteceu (total ou parcialmente) em 75 mil imóveis rurais registrados no CAR, que representam 1,1% do total registrado no sistema nacional.
Outro dado relevante divulgado pelo MapBiomas: mais de 99% da área devastada no país no ano passado registrou, pelo menos, algum indício de irregularidade. E a maioria dessas irregularidades derivou de desmatamentos sobrepostos a áreas de Reserva Legal ou de Proteção Permanente (APP) que, de acordo com a lei,deveriam estar protegidas.
E a realidade se confirma, mais uma vez: os territórios mais preservadoscontinuam sendo Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQs) e Terras Indígenas (TIs).
Em comunidades quilombolas, as áreas sobrepostas desmatadas em 2022 foram de 0,05% da área total do país, sendo a Kalunga, em Goiás, a mais afetada: 258 hectares foram suprimidos. Com um detalhe: parte está localizada na Área de Proteção Ambiental Pouso Alto, nos arredores do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
No mesmo período, TIs representaram 1,4% da área total desmatada no Brasil, a maior parte na Amazônia, em especial na TI Apyterewa, no Pará, a terra indígena mais devastada pelo segundo ano consecutivo.
Em 4 anos, 66 mil km2 desmatados
De 2021 a 2022, cinco biomas registraram aumento do desmatamento. A exceção ficou com a Mata Atlântica, que, de acordo com o MapBiomas, tem 29% de florestas intactas e registrou queda de 0,6% na quantidade de alertas. Ainda assim, foram destruídos 30.012 hectares de vegetação nativa.
Os maiores registros de desmatamento aconteceram na Amazônia, com cerca de 200 mil hectares a mais devastados. No Cerrado, o incremento foi de 157 mil hectares, também líder em alertas: 31,2% a mais.
No que diz respeito à quantidade de alertas naqueles dois anos, depois do Cerrado vêm o Pampa (27,2% de aumento), a Caatinga (22,2% a mais), a Amazônia (19%) e Pantanal (4,4%).
Levando em conta os quatro anos de destruição do governo Bolsonaro – 2019 a 2022 -, o MapBiomas revela que foram reportados mais de 303 mil alertas devido à destruição de 66 mil km² (6,6 milhões de hectares) nos seis biomas brasileiros, área equivalente a uma vez e meia a área do estado do Rio de Janeiro.
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Leia também:
– Queda no desmatamento na Amazônia chega a 31% nos primeiros cinco meses do ano (junho 2023)
– Desmatamento bate recorde no Cerrado e cai na Amazônia Legal, revela Inpe (maio 2023)
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Fontes: MapBiomas, G1, O Eco
Foto: Victor Moriyama/Greenpeace (Altamira/Pará)