São vários os exemplos da natureza de mães que nunca desistem de seus filhotes, mesmo depois de mortos. Em 2018, uma orca comoveu o mundo após ficar dias empurrando o corpo do filhote, sem vida na região de Seattle, no estado de Washington, como mostramos nesta outra reportagem. Mesmo quando eles nascem com problemas, fêmeas de diversas espécies fazem o que podem para salvá-los.
Uma dessas situações foi acompanhada por pesquisadores brasileiros. No meio da floresta no Parque Nacional do Ubajara, no Ceará, uma fêmea de macaco-prego-amarelo (Cebus libidinosus) foi observada carregando seu filhote nas costas. Algo comum para esses animais, todavia, os cientistas perceberam que o filhotinho tinha uma problema na perna.
Segundo os pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Tatiane Valença e Tiago Falótico, a suspeita é que o filhote era um recém-nascido, com menos de um mês de idade. Não havia sinais de fraturas ou ferimentos externos na perna esquerda, então ele provavelmente já nasceu com alguma má-formação, que o impedia de usá-la.
Como não conseguia usar a pata para se firmar nas costas da mãe, constantemente ela parava e o ajeitava em seu corpo. Em outros momentos, quando a fêmea estava quebrando cascas de frutas com uma pedra, ela foi vista levantando o rabo, um comportamento incomum para um macaco-prego, já que esse movimento só é feito no chão para aumentar a alavancagem.
De acordo com os pesquisadores, o levante da cauda pode ter sido um esforço para evitar que o bebê caísse durante as manobras abruptas.
Além da mãe, outro membro do grupo, também carregava o macaquinho em suas costas.
Durante o período de observação do grupo, a fêmea foi batizada de Baleia e o filhote de Balaio
(Foto: Tatiane Valença)
“Os macacos-prego tendem a demonstrar muito interesse pelos recém-nascidos, abordando-os, cuidando-os, olhando-os com atenção e até beijando-os nos lábios. Balaio foi bem recebido pela mãe e outros membros do grupo, como qualquer outro filhote”, contou Tatiane ao site Newsweek.
Infelizmente, apesar do esforço da mãe e de outros membros do grupo, Balaio acabou morrendo. Não se sabe se foi após uma queda.
“Não temos certeza do que causou a morte, mas provavelmente uma queda. Vimos o filhote um dia antes de percebermos sua morte. Ele estava perfeitamente bem. Após o óbito, examinamos o corpo. A pele ao redor do olho esquerdo estava descolorida e inchada, favorecendo a hipótese de que a morte foi decorrente de um trauma. Então, a deficiência dele pode ter contribuído para a morte”, disse a pesquisadora.
Horas após sua morte, a mãe continuava carregando o corpo do filhote. Uma imagem comovente. Entretanto, nenhum outro macaco adulto do grupo chegou perto dele. Apenas quatro juvenis se aproximaram e demonstraram curiosidade.
A mãe carregando o filhote já sem vida
(Foto: Tatiane Valença)
Em um artigo científico publicado no jornal Primates, os cientistas sugerem que a dificuldade de carregar indivíduos incapacitados e mortos pode ter contribuído, de alguma forma, para a evolução da bipedalidade (andar sobre duas patas) em alguns primatas.
*Com informações dos site Phys.org e Newsweek Science
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Foto de abertura: Tatiane Valença