O coaxar é uma das principais características de alguns anfíbios. Inclusive, muitas espécies são reconhecidas justamente por causa de suas vocalizações, como foi o caso da perereca-do-vale-do-tapir (Tlalocohyla celeste), na Costa Rica. É sobretudo, quando o sol se põe, que esses animais ficam mais ativos. Machos de sapos e rãs usam o coaxar para atrair fêmeas e o direito de fecundar seus ovos.
Todavia, algumas poucas espécies de anfíbios são silenciosas. Não coaxam, não cantam, não fazem som algum. Exatamente como o recém-descrito Hyperolius ukaguruensis, um sapo encontrado nas montanhas Ukaguru, na Tanzânia.
O novo sapo se junta a um grupo de outras sete espécies que são, digamos assim, “mudas”. Todas elas têm como habitat o continente africano e apresentam uma característica física inusitada: os machos possuem espinhos na garganta.
“É um grupo muito estranho de sapos”, diz Lucinda Lawson, bióloga conservacionista e professora assistente de pesquisa na Universidade de Cincinnati. “Os sapos machos não cantam como a maioria dos indivíduos de outras espécies. Achamos que eles podem usar os pequenos espinhos como um tipo de braille para reconhecimento entre os pares”.
E a suspeita é que esses espinhos também servem para atrair as fêmeas da mesma espécie.
Na verdade, a descoberta do sapo silencioso aconteceu por acaso. Em 2019, Lucinda estava acompanhada de um grupo de outros pesquisadores buscando uma outra espécie de anfíbio, muito rara, nas florestas da Tanzânia. Entretanto, acabaram se deparando com o Hyperolius ukaguruensis.
“Imediatamente ficou claro que era um sapo de garganta espinhosa. Mas este era de um marrom esverdeado dourado em vez da cor verde encontrada nas outras espécies”, relembra a cientista. “Às vezes, a variação de cores não significa nada, mas aqui sim”.
Existem quase 200 espécies de sapos do gênero Hyperolius. Exames em laboratórios e testes genéticos comprovaram que o espécime da Tanzânia era desconhecido para a ciência. Uma de suas diferenças são os olhos menores em comparação aos demais.
Todavia, os pesquisadores alertam sobre a necessidade de proteção de seu ecossistema.
“As montanhas Ukaguru fazem parte do maior Arco Oriental Rift, um berço fascinante de biodiversidade, com muitas espécies endêmicas de blocos de montanha únicos. Mas o rápido crescimento populacional na Tanzânia significa que os habitats das florestas montanhosas estão sob ameaças crescentes das pessoas”, ressalta Lucinda.
Segundo os especialistas, os anfíbios estão entre os animais mais ameaçados do planeta. São mais vulneráveis às mudanças climáticas e sua pele absorve mais toxinas e outros poluentes presentes tanto no ar como em rios e outros cursos d’água.
“Se o habitat de um pássaro é destruído, às vezes ele pode voar para uma nova floresta. Mas isso é difícil para os anfíbios”, diz a cientista.
O sapinho com seus espinhos na garganta
(Foto: Christoph Liedtke)
*Com informações e entrevistas da assessoria de imprensa da Universidade de Cincinnati
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Foto de abertura: Christoph Liedtke
Agora tem um sapo com barba por fazer! Ah, ah, ah!